Título: Caos no primeiro dia de Lula no CCBB
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2009, Política, p. 6

Presidência

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aguarda na entrada; o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sai do carro no lugar errado; a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, dá entrevista a céu aberto. Todo mundo sem saber o que fazer, tudo meio de improviso. Foi assim a estreia ontem do presidente Lula e trupe no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Nesse ambiente governamental confundiam-se trabalhadores que aprontavam linhas telefônicas, montavam móveis, ligavam sistemas de ar-condicionado, conectavam a internet, enfim, acertavam detalhes da infraestrutura do novo gabinete presidencial.

¿O presidente reconhece que está havendo um sacrifício para todo mundo, que as condições não são as ideais, mas sabe que o esforço vale a pena para deixar o Palácio do Planalto em melhores condições¿, disse o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach.

A mudança do Palácio do Planalto para o CCBB foi adiada inúmeras vezes devido aos seguidos atrasos em adaptar a estrutura anterior à nova realidade. Salas que eram juntas foram separadas, gabinetes em andares diversos ficaram conectados. A Casa Civil antes longe aproximou-se da Secretaria de Comunicação Social. Estão porta a porta.

O improviso ainda é tamanho que a estreia de Lula deveria ter ocorrido na terça-feira, mas ele literalmente fugiu do CCBB. Pouco depois das 16h de anteontem, o helicóptero presidencial, carregando Lula, começou a taxiar no Centro Cultural. Aproximou-se do local de pouso, quase tocou o chão, mas ao ver a aproximação desenfreada de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, voltou a alçar voo e partiu para o Palácio da Alvorada.

Escolada O presidente voltou ao CCBB somente às 15h15. Chegou de carro, conversou com assessores, acenou para populares, entrou no gabinete onde recebeu o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, o ministro da Justiça, Tarso Genro e outros auxiliares e tocou o dia. Antes de Lula chegar, a ministra Dilma Rousseff mostrou-se mais escolada. Nem entrou no Centro Cultural direito e parou para conversar com jornalistas, afinal era dia de lançamento do plano habitacional, cujo olhar político está voltado ao impulso de sua carreira eleitoral na sucessão presidencial de 2010. Mostrou-se simpática, aceitou brincadeiras e encerrou a entrevista dizendo: ¿Vou conhecer meu gabinete agora¿.

A rotina digna de um repente nordestino deixou os seguranças presidenciais em estado de alerta total. O chefe da segurança pessoal do presidente Lula, general Gonçalves Dias, pegou seus subordinados e fez uma ronda no local preocupado com a aproximação exacerbada de populares e jornalistas com as autoridades. Mas ainda não há consenso sobre o que se deve fazer no novo ambiente de trabalho. Fato é que toda mudança é sinônimo de bagunça. E a ordem só se ajeita com o passar dos dias. Para conter reclamações, Lula mandou todo mundo se esforçar para se adaptar o mais rápido possível ao novo gabinete. A começar por ele próprio.