Título: Vamos para o sacrifício democrático
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/06/2009, O País, p. 5

Lula defende liberdade de imprensa e diz que não há hipótese de 3º mandato

CIDADE DA GUATEMALA. O presidente Lula voltou a afirmar que é contrário à possibilidade de disputar um terceiro mandato, embora tenha demonstrado satisfação com o resultado de pesquisas que apontam que parte expressiva da população é favorável a essa hipótese:

- Acho que o Brasil não deve ter o terceiro mandato. Da minha parte, não existe hipótese do terceiro mandato - afirmou, acrescentando: - Volto a repetir o que já disse: eu não brinco com a democracia. Foi muito difícil a gente conquistá-la. E o que vale para mim vale para os outros. Alguém que quer o terceiro mandato pode querer o quarto, pode querer o quinto, pode querer o sexto.

Apesar de se dizer contrário ao terceiro mandato, o presidente fez uma ressalva, voltando a citar os longos mandatos de primeiro-ministro em países da Europa. Lula também usou como exemplo de seu argumento, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que recentemente conseguiu aprovar alteração constitucional que lhe garante o direito de disputar indefinidamente outros mandatos.

Mais cedo, em discurso na cerimônia em que recebeu as chaves da Cidade da Guatemala, Lula defendeu a liberdade de imprensa e disse que, sem ela, a democracia não é viável. A declaração ocorreu depois que o prefeito Álvaro Arzú, ex-presidente da Guatemala, brincou com a alta popularidade de Lula.

- A gente pode ver que o senhor passou sete anos sorrindo. Dá para ver que o Brasil não tem a imprensa que tem a Guatemala - disse Arzú.

- Não conheço um presidente que deixe de falar mal da imprensa. Mas sem a imprensa não haveria democracia. A imprensa fortalece a democracia quando se contenta em informar os fatos, não criá-los; quando não se transforma em porta-voz de um pensamento político. Aí a liberdade de imprensa estará arranhada - disse Lula.

Ao chegar para a entrevista, ele fez um gracejo com o prefeito e os repórteres:

- Vamos para o sacrifício democrático.

*O repórter fez os trechos internos na América do Sul em aviões da FAB, em função da dificuldade de acompanhar a agenda presidencial em vôos comerciais