Título: Procuradoria denuncia mulher de Paulinho
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 03/06/2009, O País, p. 10

ONG da sindicalista recebeu dinheiro desviado; assessor do deputado chefiava esquema, segundo o Ministério Público

SÃO PAULO. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou ontem a sindicalista Elza Pereira, mulher do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical, por lavagem de dinheiro. A ONG Meu Guri, presidida por ela, recebeu depósito de R$37,5 mil feito por João Pedro de Moura, suposto chefe de um esquema de desvio de empréstimos liberados pelo BNDES. Amigo de Paulinho e ex-assessor da Força Sindical, Moura se apresentava a prefeitos e empresários interessados em empréstimos como assessor do deputado.

O MPF também denunciou, por corrução passiva, o ex-prefeito de Praia Grande Alberto Mourão (PSDB). Ele teria recebido passagens aéreas do empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco, dono da casa de prostituição WE e outro suposto integrante da quadrilha. Numa das viagens, ele teria assinado contrato com o BNDES que resultou em empréstimo de R$130 milhões para obras de saneamento em Praia Grande.

Segundo documentos e escutas feitas pela Polícia Federal na Operação Santa Teresa, o grupo teria cobrado 2% (R$2,6 milhões) para intermediar o empréstimo. Mourão não foi denunciado antes porque até o fim de 2008, no cargo de prefeito, tinha direito a foro especial.

- Elza permitiu que a conta do instituto fosse utilizada mesmo sabendo a origem do dinheiro - disse a procuradora da República Adriana Scordamaglia.

O presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Pesquisa Política, Social e Cultural do Trabalhador, Wilson de Oliveira, também ligado à Força Sindical, foi denunciado por lavagem de dinheiro. Ele permitiu que Marcos Mantovani, dono da Progus, consultoria que fornecia notas à quadrilha, depositasse nas contas do instituto três cheques de R$180 mil. O dinheiro seria fruto de propina cobrada após a liberação de empréstimo para a prefeitura de Praia Grande e o Magazine Luiza.

BNDES não tinha envolvimento no esquema

O MPF ofereceu novas denúncias por lavagem de dinheiro contra João Pedro e o advogado Ricardo Tosto, filiado ao PDT e ex-integrante do Conselho Administrativo do BNDES, indicado pela Força. Ele recebeu R$182 mil da Progus por meio de seu escritório. Eles já são réus em ação que corre na 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

Segundo a procuradora, as investigações não apontaram participação de dirigentes do BNDES na irregularidades.

- Não conseguimos saber se houve participação de alguém do BNDES. O certo é que houve desvio de dinheiro do BNDES porque os recursos não foram utilizados para o objetivo previsto nos contratos.

Segundo a procuradora, o banco informou que fiscaliza a execução das obras, mas não teria como monitorar o dinheiro após as liberações. Na época das denúncias, o BNDES suspendeu repasses aos suspeitos.

O advogado de Elza, Antonio Rosella, disse que ela não foi notificada e que a ação do MPF é perseguição a Paulinho. Tosto afirmou, em nota, que o dinheiro da Progus é referente a honorários. O ex-prefeito de Praia Grande não foi encontrado.