Título: Lula defende presidente acusado por morte
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/06/2009, O Mundo, p. 31

Na Guatemala, brasileiro diz que relação internacional se dá entre Estados, não entre homens

CIDADE DA GUATEMALA. Depois de assinar uma declaração conjunta na qual manifestou seu apoio ao governo do presidente da Guatemala, Álvaro Colom, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva qualificou ontem, durante entrevista coletiva, de "tacanha" a visão dos que o questionam sobre seu relacionamento com governantes acusados de irregularidades e até mesmo de crime, como é o caso de Colom.

O presidente da Guatemala é investigado depois da morte do advogado Rodrigo Rozenberg, assassinado no mês passado. Rozenberg deixou um vídeo-testamento no qual afirma que, se algo acontecesse com ele, Colom deveria ser responsabilizado. Depois que o caso veio à tona, parte da população saiu às ruas para pedir a renúncia do presidente guatemalteco.

- Acho uma visão muito tacanha da relação internacional. A relação não é entre homens. É entre Estados. E as pessoas estão no governo porque foram eleitas. No Brasil é a mesma coisa - afirmou Lula.

Ele lembrou que as acusações muitas vezes são consideradas verdadeiras, mas, depois, vê-se que não são. Voltou a dizer que apoia a democracia e lembrou o escândalo do mensalão:

- Quem é que disse que denúncia significa alguma coisa? E se não for verdade? Sei o que aconteceu comigo em 2005 (ano do mensalão). Sei o que aconteceu com Evo Morales, com Rafael Correa, o que está acontecendo com Cristina (Kirchner), com Michelle (Bachelet), com (Hugo) Chávez.

Lula elogia democracia e alternância de poder

Ele disse que quando sai para visitar outro país, não é a pessoa física que viaja, mas o Estado brasileiro.

- Isso vale para a Guatemala, vale para a China, para o Irã, que quero visitar. O Brasil tem uma boa relação comercial com o Irã e temos de ir lá conversar. Quem governa o Irã é da responsabilidade do povo do Irã, não é do povo brasileiro. Então, sem preconceito.

Antes, no discurso que fez ao receber as chaves da cidade das mãos do prefeito Álvaro Arzú, Lula já tinha demonstrado apoio a Colom, quando fez questão de elogiar a democracia e a alternância de poder.

(*) O repórter fez os trechos internos na América Central em aviões da FAB, em função da dificuldade de acompanhar a agenda presidencial em voos comerciais