Título: Fornecedores privilegiaram PT
Autor: Casado, José; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 31/05/2009, O País, p. 3

Partido recebeu doações eleitorais no valor de R$12,2 milhões

São fortes os laços dos partidos aliados ao governo federal com as empresas líderes no fornecimento de bens e serviços à Petrobras. Sozinhas ou em consórcio - algumas são grandes empreiteiras -, elas foram convidadas pela estatal e aceitaram contratos de valor superior a R$100 milhões em 2007 e 2008. Faturaram R$10,4 bilhões com esses negócios.

Nas últimas duas temporadas eleitorais, essas empresas privilegiaram o Partido dos Trabalhadores, que recebeu 40,8% do dinheiro distribuído por elas para campanhas.

O PT ficou com uma fatia de R$12,2 milhões do bolo de R$29,8 milhões que as empresas declararam como contribuições eleitorais em 2006 e 2008. Outros R$5 milhões foram destinados ao PMDB.

Os dois partidos detêm sete das onze cadeiras da CPI da Petrobras, cuja instalação está prevista para terça-feira no Senado. Levaram 57,8% das doações legalmente feitas pelos principais fornecedores da empresa estatal.

No conjunto, o bloco governista (integrado também por PTB, PCdoB, PR, PSB, PP e PV) recebeu 70,9% do dinheiro distribuído.

Com o pragmatismo típico do mundo dos negócios, as empresas não se esqueceram da oposição, que estará restrita a três dos 11 votos no plenário da CPI: os maiores partidos (PSDB, DEM e PPS) receberam R$5,8 milhões (19,8% do total).

Como na política a matemática é outra, não se pode garantir que o governo já tenha garantido maioria estável na CPI, mesmo diante de uma oposição fragilizada.

Aliados do governo na CPI trabalham sob mútua vigilância

Em tese, ele dispõe de oito votos (três do PT, quatro do PMDB e um do PTB) contra apenas três da oposição (dois do PSDB e um do DEM). E, assim, teria poder para conduzir e decidir todos os detalhes, conforme sua conveniência, de uma investigação sobre aspectos como:

- o superfaturamento de R$94 milhões na construção da refinaria em Pernambuco;

- aditivos contratuais na construção das plataformas marítimas para exploração e produção de petróleo, com sobrepreço estimado em R$354 milhões;

- patrocínios milionários a organizações não-governamentais ligadas a partidos governistas; e,

- pagamentos de R$178 milhões a usineiros de forma irregular - entre outras denúncias.

A maioria do governo na CPI é estável como um número escrito em papel - e apenas isso, por enquanto. Porque, na prática, o governo Lula perdeu o controle daquilo que chamava de "base aliada" no Senado Federal.

Lula escalou seus líderes no Congresso (Ideli Salvatti, PT-SC) e no Senado (Romero Jucá PMDB-RR) para atuar na linha de frente da CPI - fato incomum - , mas o clima dominante nas bancadas do PT e do PMDB no Senado é de mútua vigilância.

Confiança entre os aliados de Lula é mercadoria rara. Sobram críticas, acusações e ressentimentos. O presidente está em fim de mandato, mas dois terços dos senadores lutam pela própria reeleição em 2010.