Título: Renan reconquista o poder perdido
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 31/05/2009, O País, p. 8

Com Sarney fragilizado, senador volta de forma agressiva à articulação política

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Um ano e cinco meses depois de ser obrigado a renunciar ao cargo de presidente do Senado para escapar da cassação, pode-se dizer que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), de volta ao comando da maior bancada da Casa, reconquistou o poder perdido. Governistas e oposicionistas avaliam até que Renan conseguiu aumentar seu poder e estaria fazendo sombra ao presidente José Sarney (PMDB-AP), a quem ajudou a eleger.

Fragilizado pelas denúncias que atingiram a instituição desde sua posse, em fevereiro, Sarney teria deixado a cargo de Renan o comando das articulações políticas do Senado, a ponto de, na última semana, ter interferido nas indicações do PT para a CPI da Petrobras.

- O Renan está mais forte do que quando era o presidente do Senado - resumiu o presidente Lula numa conversa reservada semana passada.

Mas, enquanto atestam sua recuperação, políticos fazem ressalva ao estilo e aos métodos de Renan como articulador. O próprio Lula, que já não esconde sua contrariedade com o jogo permanente do líder do PMDB, resumiu a impressão que tem da atuação do alagoano: ele cria problemas e dificuldades para depois vender facilidades. Mesmo colocando em dúvida a lealdade do aliado, o presidente tem consciência exata de que é melhor mantê-lo por perto do que como inimigo.

Que o diga o líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), que tem sofrido com a pressão de Renan para alijá-lo das articulações políticas do Senado. Renan não o perdoa por ter admitido que se absteve na votação do primeiro processo de cassação que enfrentou no plenário do Senado, e ter votado a favor no segundo. O perfil agressivo e ousado de Renan ficou explicitado nas negociações para a composição da CPI da Petrobras.

Renan, ao contrário de outros colegas que optaram pela renúncia ao mandato para evitar um julgamento no Legislativo - como fizeram Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), Jader Barbalho (PMDB-PA), José Roberto Arruda (PSDB-DF) e Joaquim Roriz (PMDB-DF) - desafiou seus desafetos. Acabou absolvido duas vezes em plenário, mesmo sem o apoio incondicional esperado do PT.

Renan reconquistou o posto de líder do partido e está se vingando dos desafetos. A primeira vítima foi Mercadante, que ele não aceitou na CPI.