Título: A submersão de Joaquim Barbosa
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 31/05/2009, O País, p. 12

Ministro se afasta dos colegas, não dá entrevistas, mas a cada dia faz mais sucesso nas ruas

Carolina Brígido

BRASÍLIA. Mais de um mês após o bate-boca com Gilmar Mendes que ecoou em todo o país, Joaquim Barbosa se fechou. Não dá mais entrevistas e conversa apenas o necessário com os outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Não frequenta mais a sala reservada onde os ministros se reúnem para tomar lanche no intervalo das sessões plenárias de quarta e quinta-feira. Prefere ir sozinho para o gabinete. Lá, conversa com assessores e faz sozinho a refeição vespertina, com frutas e suco. Aproveita para estudar um ou outro processo. Nas poucas vezes em que lancha com os colegas, passa o tempo todo conversando com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.

Essa atitude faz parte do "período de submersão" pelo qual Barbosa diz que passará até abril de 2010, quando termina o mandato de Gilmar na presidência da Corte. Entre os colegas, embora a "turma do deixa-disso" insista em abafar o caso, o clima continua pesado. Nos bastidores, Barbosa e Gilmar, que não conversavam há tempos mesmo antes da discussão, têm falado mal um do outro. Alguns ministros, como Carlos Ayres Britto e Ricardo Lewandowski, tentaram apaziguar os ânimos.

Mesmo isolado do convívio com os colegas - por opção, ressalte-se -, Barbosa faz cada dia mais sucesso fora do tribunal. Tomou para si o conselho dado a Gilmar em 22 de abril e ele mesmo tem saído "às ruas" para checar a opinião pública. Aliás, nesse mesmo dia, enquanto os colegas tentavam redigir nota pública para pôr panos quentes, Barbosa estava num bar com amigos. Recebeu apoio até de desconhecidos.

Barbosa experimenta uma espécie de teste de popularidade. Semana passada, em Porto Alegre para uma palestra, foi abordado com entusiasmo pelo público. Quarta-feira, um grupo de estudantes do ensino médio de Campinas marcou audiência com ele no tribunal. Queriam tirar fotos com Barbosa e o trataram como ídolo.

Estranhos dizem a Barbosa nas ruas que ele estaria com "mau olhado" e, por isso, estariam rezando por ele. No gabinete, o ministro tem uma coleção de bíblias e de medalhinhas católicas que recebe dessas pessoas. Barbosa, que não é religioso e nem frequenta igrejas ou templos, diz que não precisa mais se preocupar com orações, já que tanta faz isso por ele.

O ministro começou a ser reconhecido fora do tribunal a partir de agosto de 2007, quando apresentou um voto defendendo a abertura de ação penal contra os 39 suspeitos de participar do esquema do mensalão - o suposto pagamento de propina por parte do governo a parlamentares da base aliada em troca de apoio em votações importantes no Congresso. O voto foi seguido quase na íntegra pelos demais ministros. Em abril, quando disse a Gilmar que ele estava tirando a credibilidade do Judiciário, atraiu mais admiradores.