Título: Empresas vão captar US$5 bilhões lá fora
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 31/05/2009, Economia, p. 35

Demanda por papéis brasileiros é maior que a oferta de títulos. Economista diz que emissão superará 2008

Cássia Almeida

Assim como o mercado financeiro brasileiro tem atraído investidores estrangeiros, os papéis brasileiros são a bola da vez no exterior. Até setembro, o banco Santander vai oferecer ao mercado internacional entre US$4 bilhões e US$5 bilhões de títulos de dívida em dólar de mais de cinco empresas brasileiras. E o banco já prepara emissões em real para os próximos meses.

Segundo Jean Pierre Dupuí, diretor de Operações Estruturadas do Santander, os bons fundamentos da economia brasileira explicam a demanda pelos papéis brasileiros no exterior e a entrada maciça de investidores no mercado brasileiro. Movimento que fez o dólar ficar 15,6% mais barato este ano. Frente à maior cotação da moeda americana, que chegou a R$2,536 em 4 de dezembro passado, a desvalorização atingiu 22,3%.

Para ele, a aceitação dos títulos das empresas brasileiras no exterior mostra que o Brasil conseguiu estabelecer diferenças frente a outros países como México, Rússia e África do Sul.

- O Brasil captou mais barato que esses países.

Para ele, a captação de recursos de empresas brasileiras no exterior vai ultrapassar, "e muito", a emissão registrada em 2008, ano em que o Brasil conquistou grau de investimento, tornando-se um porto seguro para os investidores. Mas aí veio a crise...

E o Brasil só voltou ao mercado internacional em fevereiro com a Petrobras, que teve que recorrer à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil para se financiar no auge da crise, no segundo semestre do ano passado. A estatal captou R$1,5 bilhão, pagando 8,12% de juros ao ano, num prazo de dez anos.

- A procura foi o triplo da oferta da Petrobras. E os títulos começam a ser negociados no mercado secundário (serem revendidos) por uma taxa um ponto percentual menor - disse Dupuí.

Alta das "commodities" e juro alto pressionam câmbio

No mês passado, foi a vez da Odebrecht, que emitiu papéis no valor de US$200 milhões com vencimento em cinco anos, e da Oi/Telemar, oferecendo US$750 milhões, por dez anos.

- O número de investidores aumentou muito este ano. A tendência é só crescer. As empresas também têm grau de investimento - afirmou Dupuí.

Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Reinaldo Passanevvi, o dinheiro está voltando a circular pelas mãos dos investidores institucionais, como fundos de pensão e gestores de recursos.

- Mas o mercado bancário ainda está muito apertado.

Para o economista-chefe da GAP Asset, Alexandre Maia, o Brasil tem um apelo específico que se soma à desvalorização mundial do dólar frente às moedas nacionais.

- O Brasil tem fundamentos econômicos fortes, contas externas equilibradas e reservas, o que provoca entrada permanente de dólar no mercado de câmbio.

A aplicação em títulos do governo, que oferece um dos juros mais altos do mundo, tem sua parcela nessa atração, porém não é o mais relevante, na opinião de Maia.

- A apreciação do real está muito vinculada à alta das commodities. Maio foi o melhor mês em décadas nas cotações.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, os juros altos são atraentes, assim como o mercado de ações.