Título: Ambiente carregado para Minc na Esplanada
Autor: Alencastro, Catarina; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 04/06/2009, O País, p. 3

Após ataques a parlamentares e colegas, ele será recebido por Lula.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que semana passada fez críticas públicas a colegas de governo, está na berlinda. E não é apenas com os ministros responsáveis por obras dependentes de licença ambiental que Minc vive uma relação desgastante na Esplanada. No núcleo central do governo aumentam, a cada dia, queixas de outros ministros, especialmente contra o que chamam de "comportamento midiático" de Minc.

O descontentamento com os exageros do ministro é tanto que o presidente Lula pode desistir de viajar amanhã para o Sul da Bahia, onde celebraria o Dia Mundial do Meio Ambiente e assinaria a criação de unidades de conservação. Lula se encontrará hoje com Minc para tratar do assunto. O presidente tem um bom motivo para justificar a mudança na agenda: uma missa em homenagem às vítimas do acidente com o avião da Air France. Assim, evitaria prestigiar Minc, que tantos problemas políticos tem provocado. A ideia da viagem foi de Minc. Antes de viajar para o exterior, o presidente havia concordado.

Ministro admite que se excedeu

Ao sair do sétimo balanço do PAC, ontem, Minc comentou as duras críticas que recebeu de parlamentares, na véspera, no Senado. O ministro admitiu que se excedeu no discurso feito semana passada, do alto de um carro de som da Contag, de onde chamou ruralistas de vigaristas. Disse que releva as críticas, encabeçadas pela senadora e presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), e que vai procurá-la para buscar um entendimento com os grandes produtores rurais.

- Recebo as críticas com naturalidade. Às vezes, a gente se excede, sobretudo quando está em cima de um carro de som da Contag. Também alguns parlamentares se excederam em algumas insinuações, mas relevo isso. Acho que a questão principal é o entendimento. Fizemos um pacto histórico com a pequena agricultura, que vai ter tratamento diferenciado, mas, num segundo momento, vamos ter esse pacto também com a média e a grande agricultura, que são fundamentais para o país. Produz superávit, produz divisas, alimento - disse Minc, frisando que respeita a senadora.

Segundo auxiliares de Lula, as maiores reclamações contra Minc saem do Congresso e são anteriores aos ataques do ministro à classe política, semana passada. Interlocutores do presidente contam que são frequentes as queixas de deputados e senadores que tentam uma audiência com Minc e não recebem sequer respostas. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), de quem Minc foi secretário, já teria entrado no circuito para tentar angariar apoios ao ministro.

MP legaliza terras griladas

Ontem, Minc chamou de especulação a data divulgada publicamente pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, durante cerimônia de balanço do PAC, para a concessão da licença prévia da BR-319. Motivo de divergências entre os dois, a estrada que liga Manaus a Porto Velho deve ter sua licença prévia garantida dia 15, segundo Nascimento. Minc, que condena a obra, diz que o licenciamento só sairá após o Ministério dos Transportes cumprir as exigências prévias listadas por um grupo de trabalho.

Sob protestos da senadora Marina Silva (PT-AC), antecessora de Minc, o Senado deu um passo ontem para aprovar a MP 458, que permite legalizar terras griladas na Amazônia com até 1.500 hectares. A admissibilidade da proposta foi aprovada. A próxima etapa será sua votação, o que poderia ocorrer ainda ontem à noite. A MP permite que o governo venda as terras, sem licitação, a posseiros e grileiros que as ocupavam até 2004.