Título: O trem da Copa
Autor: Barbosa, Flávia; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 04/06/2009, Economia, p. 25

Trem-bala, que pode absorver 53% do tráfego entre Rio e SP, será licitado este ano, promete Dilma

Flávia Barbosa e Gustavo Paul

Aministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou ontem que, a despeito da crise, está mantida para o segundo semestre a licitação do trem-bala, que vai ligar o Rio a São Paulo e a Campinas. A área técnica do governo estima para novembro o leilão e acredita que os favoritos na disputa são os grupos japoneses e coreanos. O empreendimento - com 511 quilômetros de extensão e cuja ligação entre as capitais paulista e fluminense deverá ficar pronta até a Copa de 2014 - está orçado em US$11 bilhões. O trem-bala pode abocanhar 53,5% do tráfego entre Rio e São Paulo.

- Todos eles (candidatos a investidores) estão bem sinalizados de que esse trem esteja funcionando para a Copa. Isso é importante porque esse meio de transporte é extremamente facilitador em uma região muito importante, no que se refere à movimentação da Copa - afirmou Dilma.

O governo deu um tratamento VIP para o Trem de Alta Velocidade (TAV) no sétimo balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ontem, no Itamaraty. Pela primeira vez, foi feita uma apresentação do projeto com simulação de trajeto, sinalização estações e indicação de pontes, túneis e trechos em superfície.

"Queremos abrir o pacote tecnológico"

Dilma deu a entender que o setor ferroviário brasileiro deverá ganhar mais envergadura nos próximos anos, com a criação da nova Empresa de Pesquisas Ferroviárias (EPF), que irá coordenar a transferência de tecnologia não só do trem de alta velocidade, como de metrôs e trens convencionais.

- Para nós, transferência de tecnologia não é pegar uma empresa lá no exterior e fazê-la produzir aqui. Isso é investimento aqui. Queremos abrir o pacote tecnológico. É preciso uma empresa privada nacional, um instituto de tecnologia, uma rede de universidades ou institutos de tecnologia. E temos de ter o transferidor.

Segundo a ministra, já foi feito o mapeamento de tecnologias de trens de alta velocidade, bem como listados os institutos de pesquisa e universidades que poderão absorvê-las. Até as empresas que poderão desenvolver os projetos foram listadas. A gaúcha Marcopolo, por exemplo, poderia produzir o interior dos vagões.

- Queremos saber fazer via permanente de trem de alta velocidade e de trem em geral no Brasil. E de metrôs - disse a ministra.

O governo prevê ao menos oito estações obrigatórias para o trem-bala: duas em Campinas, uma em São Paulo, uma em Guarulhos, uma em São José dos Campos, uma entre Barra Mansa e Volta Redonda e duas no Rio (Galeão e Leopoldina). Há mais duas estações sugeridas, em Jundiaí e Aparecida.

Os primeiros estudos de demanda apontam que o trem-bala pode abocanhar 53,5% do tráfego entre Rio e São Paulo, considerando-se todas as paradas envolvidas e as ligações regionais (Campinas-Barra Mansa, por exemplo). O trem-bala tem potencial para roubar 67,1% da demanda atendida hoje pelos ônibus, 47,9% da dos automóveis e 47,3% do transporte por avião. Hoje, 60% do tráfego entre capitais é feito por avião, 16,5% por carro e 23% por ônibus.

Segundo técnicos do governo, as empresas japonesas e coreanas têm interesse no projeto, desde a questão do traçado até a dos equipamentos. Já alemães e franceses - como Siemens e Alstom - parecem mais inclinados à venda de maquinário.

Os estudos do trem-bala estão sendo finalizados. Depois, vão a audiência pública por 30 dias. O projeto, então, será submetido à avaliação do Tribunal de Contas da União, o que leva 45 dias. Os passos seguintes são a publicação do edital e o leilão, possivelmente em novembro.

Governo não vai construir estádios

O governo federal não deverá se intrometer na construção e reforma dos 12 estádios para a Copa de 2014, mas avalia o investimento em transporte de massa. Dilma disse que o Executivo "se fia" na promessa do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de que o setor privado vai arcar com 100% das obras. Segundo a ministra, o governo está disposto a verificar as medidas para adequar aeroportos e melhorar o transporte, o que seria uma forma de "deixar um legado da Copa". Ela descartou que o governo irá pagar a conta da Copa do Mundo:

- Não dá para tentar agora, na hora final, colocar com atribuição do governo o que nunca foi atribuição do governo. Não vai funcionar assim.