Título: MP indicia executivos de empreiteira
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/06/2009, O País, p. 3

Doleiros e diretores da Camargo Correa são acusados de crimes financeiros

SÃO PAULO. Como resultado da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou ontem à Justiça quatro executivos da construtora Camargo Corrêa e três doleiros por supostos crimes financeiros. Os diretores da empresa Pietro Francesco Giavina Bianchi, Dárcio Brunato e Fernando Dias Gomes são acusados de fraude contra o sistema financeiro, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. O executivo Raggi Badra Neto e duas secretárias da construtora também foram denunciados por evasão de divisas e formação de quadrilha.

Caso a denúncia oferecida à Justiça Federal pela procuradora da República Karen Louise Jeanette Kahn seja aceita, o doleiro suíço Kurt Paul Pickel e os doleiros José Diney Matos e Jadair Fernandes de Almeida responderão pelos supostos crimes de operação de instituição financeira ou de câmbio ilegal, fraude financeira, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Maristela Sum Doherty responderá (ou Maristela Brunet) pelos crimes de câmbio ilegal, evasão, lavagem e quadrilha. Outro denunciado é o empresário Girolamo Santoro, dono da Soft Consultoria em Sofware, com sede no Rio. Ele é acusado de fraude financeira, evasão de divisas e formação de quadrilha.

A operação Castelo de Areia foi deflagrada em março passado pela Polícia Federal para investigar um suposto esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas na empresa Construções e Comércio Camargo Corrêa. Durante a operação, a PF e o Ministério Público também acusaram a empresa de abastecer o caixa dois dos partidos políticos.

Empreiteira, em nota, diz acreditar na inocência de seus funcionários

O MPF qualificou como "principal esquema de evasão, câmbio ilegal e lavagem" a importação de softwares pela empresa Admaster Participações Ltda através de dois bancos. Segundo a procuradora da República, os contratos eram forjados sob aparente legalidade, mas, na prática, a importação era simulada, e o pagamento era feito para a empresa de um dos doleiros, a Surpark, no Uruguai. A partir dessa empresa, o dinheiro seria distribuído aos demais doleiros via dólar-cabo para outros países.

Ontem, a Camargo Corrêa divulgou nota informando que soube da denúncia do MPF pela imprensa e lembrando que a presunção de inocência existe até o fim do julgamento do processo. "A Camargo Corrêa tomou conhecimento pela mídia da denúncia apresentada hoje pelo Ministério Público à Justiça contra seis de seus profissionais. O processo de investigação e o processo judicial são partes fundamentais das regras de uma nação democrática. A Camargo Corrêa acredita que seus profissionais não tenham responsabilidade penal. Esses profissionais contam com a constitucional presunção de inocência até o fim do devido processo legal, no qual eles exercerão amplo direito de defesa. A construtora está comprometida com as instituições, com a legalidade e com o desenvolvimento dos países onde atua, com seus profissionais, e vai cooperar com as investigações com postura à altura das responsabilidades e dos valores desta organização de 70 anos de contribuição para o Brasil", diz a nota da empresa.

O GLOBO tentou entrevistar o empresário Girolamo Santoro, mas ele estava fora da empresa e não retornou a ligação.