Título: Do Opala ao Vectra, modelo europeu
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 02/06/2009, Economia, p. 17

Carros no Brasil têm projetos da Opel, vendida à canadense Magna.

SÃO PAULO e RIO. Além da concordata nos EUA, a GM do Brasil acompanha com atenção a venda da divisão europeia Opel, para a fabricante de autopeças canadense Magna International. É que os carros de passeio Chevrolet fabricados no Brasil têm projetos importados, ou modificados, a partir de tecnologia dos modelos Opel. Essa ligação começa em 1968, com o lançamento do Opala brasileiro (versão nacional do Opel Rekord alemão) e vem até hoje, com modelos como Corsa, Zafira, Astra e Vectra. Dos Estados Unidos, veio apenas a picape S10.

Embora sejam desconhecidas as condições de venda da Opel à Magna, os analistas acreditam que a tecnologia já transferida ao Brasil seja preservada. Há alguns anos a subsidiária brasileira tornou-se um dos cinco centros mundiais da marca para criação e desenvolvimento de novos projetos. Olivier Girard, da Trevisan Consultoria, acredita que o país possa ganhar importante papel para a "nova GM":

- A expertise que a filial do Brasil tem no desenvolvimento de modelos deve ser aproveitada para oferecer carros mais econômicos e ecológicos nos EUA.

Segundo a GM do Brasil, a venda da Opel para a Magna não afetará os projetos com a marca Chevrolet no país. Os acordos de desenvolvimento de novos produtos estão assegurados por um acerto entre as empresas - a GM permanece com 35% das ações de seu antigo braço europeu. O presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, só irá se pronunciar sobre a concordata pedida nos EUA hoje, mas é certo que o executivo repetirá o que vem dizendo há meses: que o processo na Justiça americana não afeta a operação no país. "Em nenhum cenário, a subsidiária brasileira será envolvida", insistiu Ardila em abril, quando a perspetiva de concordata já era tida como inevitável.

Entre os analistas, o plano de recuperação da matriz pode trazer, sim, problemas à filial.

Olivier Girard, diretor de Transporte e Logística da Trevisan Consultores, diz que do ponto de vista comercial, a subsidiária não deve ter problemas, valendo-se do bom memento do mercado brasileiro. Mas os projetos de investimento precisarão da aprovação da matriz:

- O primeiro efeito (da concordata) pode ser a suspensão de investimentos, como em lançamentos de modelos. Até os investimentos aprovados (como a nova fábrica de motores, em Joinville) podem ser paralisados por necessidade de caixa.

A GM não divulga números sobre faturamento ou lucros da operação local, apenas informa que a subsidiária brasileira responde por mais de 40% dos resultados da divisão chamada GM LAAM - que reúne 22 fábricas distribuídas entre países da América Latina (exceto o México), África e Oriente Médio.

À espera de informações novas sobre o futuro das operações no Brasil, sindicalistas afirmaram ontem que não vão aceitar o corte de funcionários ou a redução dos investimentos já programados para ajudar a fechar o rombo da matriz. Para eles, seria inevitável o impacto da concordata na administração brasileira da montadora.

- Não podemos negar que a GM do Brasil tem um futuro incerto - disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), Luiz Carlos Prates.