Título: El Salvador em estilo Obama
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 02/06/2009, O Mundo, p. 23

Mauricio Funes assume prometendo mudança e elogia presidentes dos EUA e Brasil

Acerimônia de posse do novo presidente de El Salvador, Mauricio Funes, ontem, foi marcada pela ausência de estrelas esquerdistas, como Evo Morales, da Bolívia, e Hugo Chávez, da Venezuela, e Daniel Ortega, da Nicarágua. Quem brilhou, com citações elogiosas de Funes, foram os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, dos Estados Unidos que, embora não tenha comparecido, enviou Hillary Clinton, a secretária de Estado dos EUA, para representá-lo. Também ela foi motivo de elogios de Funes, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), partido que surgiu do grupo armado que travou uma sangrenta guerra civil durante 12 anos.

Depois de dirigir-se aos presidentes que compareceram à sua posse, afirmando que eles "são símbolos vivos da esperança de seus povos" - além de Lula, o mexicano Felipe Calderón, o colombiano Álvaro Uribe e praticamente todos dos centro-americanos - Funes fez questão, no discurso de posse, de mencionar Obama e Lula O salvadorenho disse que os dois significaram um forte conteúdo simbólico em sua campanha.

- Quando meus adversários, distorcendo fatos e manchando a honra de pessoas, tentaram, falsamente, desqualificar a mim e ao meu querido partido, a FMLN, fomos buscar os exemplos vigorosos de Obama e Lula como prova de que líderes renovadores, em lugar de ser uma ameaça, significam um caminho novo e seguro para seus povos - discursou Funes.

E continuou:

- Obama provou que é possível reinventar a esperança. E Lula demonstrou que se pode fazer um governo popular, democrático, com economia forte e distribuição justa de riqueza.

No discurso, no qual destacou que seu desafio é estabilizar a economia e minimizar as consequências sociais da crise mundial, Funes citou medidas de caráter social. Entre elas, a criação 100 mil postos de trabalho até o final de 2010. Mauricio Funes se tornou o primeiro presidente de esquerda da história de seu país, e sucederá Elías Antonio Saca, da direitista Arena, que comandava El Salvador há 17 anos, desde o fim da ditadura, em 1992.

- O povo salvadorenho pediu uma mudança, e a mudança começa agora - disse o presidente Funes, citando o mote da campanha eleitoral de Obama nos EUA.

O presidente brasileiro foi bastante aplaudido ao entrar no Centro de Convenções onde ocorreu a cerimônia de posse. Igualou-se ao enviado especial de Cuba, o vice-presidente Esteban Lazo, que lidera a primeira delegação cubana a um ato de posse em El Salvador em 50 anos. No discurso, Funes anunciou que reatará imediatamente os laços diplomáticos com a ilha - somente El Salvador e Estados Unidos, nas Américas, não têm relações diplomáticas com Cuba. El Salvador rompeu relações em 1959, depois da vitória da revolução liderada por Fidel Castro.

Funes afirma não ter direito de se equivocar

Funes culpou a "elite dirigente" do país pelo estado atual de pobreza generalizada, afirmando que a responsabilidade "não é do povo salvadorenho". Ele criticou a dolarização oficial da economia de El Salvador, iniciada em 2002, mas não anunciou o retorno da antiga moeda local, o colón. Segundo ele, o governo fará um programa de investimento em infraestrutura, dentro de um "plano global anticrise".

- Temos uma tarefa gigantesca pela frente, mas isso não nos intimida - disse Funes. - Nós não temos o direito de nos equivocar.

Ele anunciou seu Ministério, no qual boa parte das pastas não serão comandadas por integrantes do FMLN. Funes convocou a oposição a participar de uma "diálogo nacional".

- Queremos construir uma nova nação, sem ódio nem ressentimento.

Funes pertence à FMLN, que durante 12 anos (entre 1980 e 1992) combateu uma ditadura de direita que comandou o menor, mas mais densamente povoado país da América Central. Há 17 anos, o grupo decidiu abandonar as armas e entrar na política partidária.