Título: Erro da FAB não surpreende especialistas
Autor:
Fonte: O Globo, 05/06/2009, Rio, p. 12

Para eles, lixo é abundante na área e falsos destroços podem voltar a aparecer

O lixo flutuante encontrado no Oceano Atlântico confundiu as equipes de resgate das Forças Armadas, mas não surpreendeu quem estuda os oceanos. Segundo os técnicos, a área onde estão sendo procurados os destroços do Airbus A330 é conhecida pela grande quantidade de dejetos flutuantes. De acordo com eles, uma grande quantidade de lixo deixada por navios e carregada por correntes marítimas costumam se acumular em áreas com poucas correntes. O fenômeno é tão frequente que teria chamado a atenção dos cientistas há bastante tempo.

De acordo com o oceanógrafo Leonardo Marques da Cruz, do Rio de Janeiro, a área onde estão concentradas as buscas é de ventos fracos e mar calmo, o que facilitaria o acúmulo de lixo no local.

- O mar calmo, aliado ao grande tráfego de embarcações naquele trecho, faz com que o lixo que chega àquele ponto flutue durante bom tempo antes de afundar - explicou Leonardo Cruz.

David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia e Hidrologia da Uerj, afirma ainda que uma boa parte do lixo proveniente da África e da Europa acaba se juntando aos dejetos descartados pelos navios.

- Todo este lixo deixado pelos navios ou descartado pelas áreas costeiras fica circulando, levado pelas correntes marítimas, e acaba se acumulando em áreas próximas, como a área onde estão concentradas as buscas do avião - diz Zee.

O oceanógrafo afirma que o fenômeno dá uma idéia do impacto da ação humana nos oceanos - e por isso tem sido alvo de várias pesquisas científicas -, mas diz que o lixo não deve chegar a ser um problema para as equipes de busca.

Um estudo feito por um grupo internacional de pesquisadores, e publicado ano passado na revista "Science", revelou que 40% dos mares foram severamente afetados pela ação do homem.