Título: Aeronáutica calcula ponto exato da última mensagem
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Fonte: O Globo, 05/06/2009, Rio, p. 12

Aeronave desapareceu por completo a 86,4km do local onde piloto deveria fazer contato

SÃO PAULO. Com base na última mensagem de pane enviada automaticamente pelo Airbus da Air France, às 23h14m de domingo, informando o aumento da velocidade vertical da aeronave, a Aeronáutica brasileira conseguiu ontem determinar as coordenadas exatas de onde aconteceu a tragédia. Segundo investigadores da Aeronáutica, a última mensagem automática foi enviada a 86,4 quilômetros do ponto Tasil, uma posição no espaço usada em rotas de voo, localizada a 1.228 quilômetros de Natal.

Quando chegasse ao Tasil, a aeronave seria vista pelos radares de Senegal, na África, e o comandante poderia pedir socorro, alertando sobre os problemas provocados possivelmente pela turbulência e pane a bordo. Quando o acidente ocorreu, o Airbus estava numa área sem cobertura de radares. Às 22h33m, quando passou pelo ponto Intol, a 565 quilômetros de Natal, a aeronave fez o último contato com o Centro de Controle Aéreo de Recife, informando que voava na velocidade e altitude previstas. Quinze minutos depois, o avião saiu da área de cobertura do último radar brasileiro, em Fernando de Noronha, e seguiu sua rota normal em direção ao ponto Tasil, onde faria o próximo contato.

O plano de voo entregue pela Air France à Aeronáutica previa que o Airbus voasse entre os pontos Intol e Tasil a cerca de 480 nós, cerca de 860 km/h. Em linha reta, a distância entre as duas posições é de cerca de 663 quilômetros. O percurso na área cega seria completado em 45 minutos.

O avião caiu quando faltavam exatamente seis minutos para chegar ao ponto Tasil, coberto pelo radar do Senegal.

O comandante do voo da Air France seguiu exatamente a rota programada para o voo. Segundo pilotos e especialistas, os radares do Airbus captaram com antecedência a tempestade que estava pela frente. A pergunta que os investigadores da Aeronáutica não sabem responder é por que os pilotos não desviaram da zona de turbulência.

O diretor-técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins, disse à revista "Época" que as últimas mensagens do sistema automático (Acars) do voo 447 da Air France indicam que os pilotos "tentaram administrar sérios problemas", antes que o avião caísse sobre o Atlântico no fim da noite de domingo. "Antes da queda, eles tiveram de enfrentar, durante turbulência, uma forte queda de pressão e diversas panes no sistema automático de voo do Airbus", disse Jenkins, ex-piloto e especialista em segurança aérea. "Foram tantas panes que talvez eles não tenham tido tempo de usar o rádio".