Título: Piloto viu forte clarão em rota do 447
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Fonte: O Globo, 05/06/2009, Rio, p. 12

Especialistas brasileiros divergem sobre hipótese de explosão em avião.

Um depoimento publicado ontem pelo jornal espanhol "El Mundo" pode ajudar a entender o que houve com o voo 447 da Air France. O comandante do vôo 974 da Air Comet, que voava de Lima para Madri no mesmo horário em que desapareceu o Airbus, teria enviado uma mensagem durante seu voo aludindo a um "enorme flash de luz branca" na região onde provavelmente ocorreu o acidente.

- De repente, observamos de longe um forte e intenso flash de luz branca que percorreu uma trajetória descendente e vertical e desapareceu em seis segundos - teria dito o piloto na sua mensagem, segundo o jornal espanhol.

Piloto teria visto tormenta com tempestade elétrica

O piloto, ainda segundo o El Mundo, teria descrito tormentas com atividade elétrica. Ele informou ainda que, perto de Cayenne (Guiana francesa), havia formações nebulosas em grande atividade que o obrigaram a se desviar uns 60 quilômetros a leste da rota. A mensagem foi enviada para a direção da empresa, que a repassou para a Air France, a Airbus e para a Direção Geral de Aviação Civil espanhola. O copiloto e uma passageira também teriam visto o clarão.

A hipótese de o A330 da Air France ter explodido no ar não é consensual entre os especialistas. O professor da Estácio de Sá Douglas Machado, que já trabalhou em segurança de voo, acredita que ainda é cedo para essa afirmação. Para ele, o forte clarão visto pelo piloto não é sinônimo de explosão. Machado explica que pode ter sido um incêndio causado pela perda de uma das asas.

- Não recolheram ainda nenhum destroço com qualquer vestígio. Isso é imprescindível, porque é grave a afirmação de que houve uma explosão. Em outras investigações, no passado, os peritos chegavam a analisar até o fundo das poltronas atrás pedaços metálicos. Isso é um tipo de evidência de explosão no compartimento de cargas, por exemplo. Portanto, ainda é cedo para dizer se houve uma explosão na aeronave - diz Machado, que também foi chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Já para o diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas e membro da Organização Internacional de Pilotos, a hipótese de explosão por problemas técnicos não está descartada:

- Nós trabalhamos com hipóteses. O avião passou por uma zona de forte turbulência, numa situação muito adversa. Então, é possível que tenha havido uma explosão. Um dano estrutural, por exemplo, pode levar a uma explosão - ressalta Camacho.

Em outra versão, avião teria se desintegrado no ar

Ontem, num encontro privado com a família das vítimas em Paris, o presidente da Air France, Pierre-Henri Gourgeon, teria dito que o Airbus 330 da empresa teria se desintegrado no ar ou quando atingiu o oceano e que não havia sobreviventes, segundo Guillaume Denoix de Saint-Marc, pessoa encarregada de ajudar as famílias.

Especialistas do ITA e da USP ouvidos pelo GLOBO e que preferiram não se identificar criticaram o ministro da Defesa, Nelson Jobim, por afirmar categoricamente que não houve explosão diante do encontro de um rastro de óleo no oceano. Um cientista do ITA explicou que a informação não afasta completamente a tese, ainda mais com a informação de que o avião sofreu uma despressurização antes de cair.

Ainda que não se encontre a caixa-preta do Airbus, marcas de queimado nas peças encontradas no mar poderão confirmar se o avião sofreu uma explosão no ar. Se houve despressurização, seja por ter sido queimado por um raio ou por ter sido avariado por um compartimento solto no avião, ou ainda atingido por alguma formação de gelo, os passageiros podem ter sido sugados para fora da aeronave e atirados ao mar.

Os especialistas informaram que um raio tem cinco vezes a temperatura do sol e que as aeronaves têm capacidade de absorver o impacto do raio, mas até certo ponto. Eles estimam que a Airbus deve rever seus conceitos de automatizar tanto os aviões, deixando pouco espaço de decisão para os pilotos.