Título: Lágrimas e lembranças em missa na Candelária
Autor:
Fonte: O Globo, 05/06/2009, Rio, p. 12

Cerca de 500 pessoas, de amigos e parentes de passageiros do Airbus a desconhecidos de várias nacionalidades, vão à cerimônia

Em clima de comoção, um ato ecumênico em homenagem às vítimas do voo 447 da Air France uniu ontem parentes, amigos, pessoas desconhecidas e autoridades na Igreja da Candelária, no Centro. Cerca de 500 pessoas estiveram na solenidade, marcada por lágrimas e abraços entre os presentes. Durante a cerimônia religiosa, autoridades como o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes, o o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim e o ministro de Assuntos Exteriores francês, Bernard Kouchner, fizeram discursos emocionados.

A banda do Corpo de Bombeiros tocou os hinos da França e do Brasil, e foi feito um minuto de silêncio em memória dos passageiros. Palavras de conforto também foram ditas por representantes católicos, judaicos, evangélicos, luteranos, ortodoxos e anglicanos.

- Elevamos a Deus as nossas preces para aqueles que se foram. Que eles encontrem a paz - disse dom Antonio Augusto, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio.

Com a voz embargada, o prefeito Eduardo Paes disse que falava, durante o ato, como amigo do seu chefe de gabinete, Marcelo Parente - que estava no avião com a mulher. Paes não conteve as lágrimas quando leu uma mensagem escrita por um outro colega do servidor.

- É um momento de reflexão e de pensar que existe Deus - falou o prefeito.

Já o ministro francês, Bernard Kouchner, que representava o presidente da França, Nicolas Sarkozy, lembrou da cerimônia na Catedral de Notre Dame, em Paris, na quarta-feira.

- Franceses e brasileiros gostam de rir. Temos muita coisa em comum. Agora, em ambos os lados do Atlântico, o sofrimento e a dor são os mesmos - afirmou o ministro, que havia chegado às 6h33m no voo 442 da Air France.

O governador Sérgio Cabral recordou de encontros que teve com algumas das vítimas, entre elas, Luiz Roberto Anastácio, presidente da Michelin para a América Latina, dez dias antes do acidente. Antes de discursar na igreja, Cabral disse que há responsabilidades da empresa fabricante do Airbus 330 ou da Air France no acidente:

- Isso não é uma tragédia natural. Não há uma explicação que não seja por uma falha técnica muito grave . Acredito que as autoridades internacionais da avião civil, a empresa fabricante do avião, e a companhia aérea proprietária da aeronave têm muito a explicar. Porque se há uma nota técnica de problemas no A-330, há responsabilidades civis sérias.

Muito emocionada, a dona de casa, Sandra de Andrade Ferreira, de 51 anos, tia da socióloga Ana Carolina Rodrigues do Viva Rio - que estava no voo com o marido argentino Pablo Dreyfus, 38 - lembrou da sobrinha.

- Esse ato ecumênico é um conforto para os familiares - avaliou Sandra, acrescentando: - A Ana Carolina era muito feliz. Uma pessoa cheia de vida.

Ana Cláudia Bonacosi, de 42 anos, sobrinha do maestro Silvio Barbato, leu um poema que fez em homenagem ao regente:

- Quis escrever para as pessoas saberem como ele era sensível e nobre.

Pessoas desconhecidas de diferentes nacionalidades estiveram na solenidade. A mexicana Yvette Rabiet, de 42 anos, que mora no Rio, era uma delas:

- Nesse momento, devemos ficar por perto daqueles que sentem essa dor.