Título: Isenção do governo francês em questão
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Fonte: O Globo, 05/06/2009, Rio, p. 12

Estado tem participação na Air France e na Airbus. Fabricante americana de motor de olho na investigação

A investigação das causas do acidente com o Airbus 330 da Air France levanta discussões quanto à isenção no processo para apurar o que provocou a morte de 228 pessoas. Isso porque o governo francês tem participações nas duas empresas envolvidas no acidente. No caso da Airbus, por meio da European Aeronautics Defense and Space (EADS).

O especialista e professor de análise de risco da Funenseg, Gustavo Cunha Melo, explica que a investigação não tem o objetivo de punir e, sim, de apurar as causas para que os erros não sejam repetidos.

- Partindo desse princípio, do ponto de vista da credibilidade da indústria local, o ideal é realmente entender o que aconteceu e não repetir os erros que provocaram o acidente. Por mais que as pressões internas venham na tentativa de impedir os procedimentos corretos - afirma Cunha Melo.

O professor de Transporte Aéreo da Universidade Anhembi Morumbi, Adalberto Febeliano, afirma que toda investigação de acidente aéreo é complexa e que a tentativa de esconder informações é grave, pelo risco de comprometer a indústria local e ceder espaço à concorrência.

Sites franceses preferem destacar morte de "Kung Fu"

Ele lembra que o Escritório de Investigações e Análises (BEA), órgão francês ligado à Organização Internacional de Aviação Civil (OACI), colocou toda a frota de Concorde no chão para modificações nos pneus e tanques, depois do acidente, em 2000. Todas as pessoas a bordo do Concorde da Air France morreram quando o avião caiu, já em chamas, após decolar do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris.

- A causa do acidente, na época, foi uma peça que ficou na pista. Na decolagem, o pneu do Concorde passou por cima e estourou. Pedaços de borracha bateram no tanque de combustível e isso provocou um incêndio. Depois que a investigação conclui a causa, os cerca de 16 Concorde ficaram no chão até que modificações fossem feitas.

Para um piloto especialista em Airbus, apesar de o governo francês ter participação tanto na fabricante de aviões quanto na companhia aérea, outros "olhos" estarão atentos.

- A GE, fabricante americana dos motores, pode participar da investigação, assim como as empresas responsáveis pelos sistemas computadorizados - diz.

Quem já não parece estar muito de olho no assunto são os sites dos principais jornais franceses. Ontem, "Le Monde", "Le Figaro" e "Libération" davam mais destaque às eleições europeias e à morte do ator David Carradine - o eterno Kung Fu - do que ao desastre.