Título: Alarme falso dos militares
Autor:
Fonte: O Globo, 05/06/2009, Rio, p. 12

Aeronáutica admite que destroços recolhidos perto de Noronha não são de avião da Air France

RECIFE e BRASÍLIA

Depois de passar o dia inteiro afirmando ter recolhido ontem destroços do avião da Air France, a Aeronáutica voltou atrás à noite e admitiu que as peças de madeira achadas não estavam no voo 447 que caiu domingo à noite no Oceano Atlântico. Também foi descartada, à noite, a hipótese de o óleo coletado pelos navios da Marinha ser de avião, uma vez que a quantidade desse combustível em aeronaves - apenas 30 litros - é muito pequena para provocar uma mancha grande. Portanto, até ontem à noite, não havia sido recolhido pelos militares nenhum objeto pertencente ao avião.

Segundo o tenente-brigadeiro Ramon Cardoso, chefe do Departamento de Controle Aéreo do Cindacta 3, embora cinco aeronaves - três brasileiras (Hércules C-130), uma americana e uma francesa - tenham avistado pallets (espécie de suportes de acomodação da carga), duas boias e manchas de óleo, apenas os primeiros puderam ser recolhidos. Mas as peças foram confeccionadas em madeira, e são diferentes das da aeronave, em alumínio. Cardoso disse que as boias foram fotografadas. Ainda assim, não foi possível ter certeza de que eram do 447.

Com isso, ganharam importância as informações divulgadas ontem pela Rádio Europe 1, em seu site, de que os primeiros destroços localizados pela FAB no Atlântico, terça-feira, não foram identificados por especialistas franceses como partes do Airbus. A mancha de óleo, um pedaço metálico de sete metros de comprimento e uma boia laranja não seriam da aeronave.

Terça-feira, os militares brasileiros estavam reticentes em afirmar que os destroços avistados por eles eram do Airbus. Foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim, quem anunciou que eram do avião, com o argumento de que não havia como serem de outra coisa.

Franceses ainda se mostram reticentes

Segundo informações obtidas pela rádio junto à Marinha francesa, essa teoria estaria errada. A mancha de combustível é uma descarga no mar de petroleiros em operação de limpeza. O pedaço metálico, que pareceu ser da fuselagem, é uma pequena embarcação abandonada; e a boia laranja é um flutuador de um tipo de armadilha para crustáceos. As conclusões apresentadas pela rádio são de especialistas franceses que participam da missão de reconhecimento na região.

O presidente do Departamento de Investigações e Análises, Paul-Louis Arslanian, não negou que os destroços fossem partes do avião, mas revelou que os investigadores franceses não estão convencidos de que o material encontrado é do Airbus:

- Há uma forte probabilidade de que os destroços que a aviação brasileira diz ter descoberto correspondam aos do acidente, mas coincidências existem. Não vi as fotos, por exemplo, e a aviação francesa não viu nada até agora. É preciso muita cautela.

O erro brasileiro fez autoridades francesas se equivocarem. O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, disse a parentes das vítimas, à tarde, que, antes de encontrá-los, ligou para o escritório francês que cuida da investigação para ter informações. O escritório confirmara que um helicóptero brasileiro levava partes do Airbus resgatadas no mar.

A Aeronáutica garante que as peças avistadas terça e quarta eram objetos do avião. Os pilotos viram destroços coloridos (marrom, amarelo e branco), que seriam de restos de poltronas e de material de revestimento de cabine e de depósitos de bagagens de corredor. Mas, como só ontem foram recolhidos destroços, continuará sem saber se a versão está correta.

--- Até agora, estávamos mais preocupados em encontrar possíveis sobreviventes. Mas, passado tanto tempo, as chances de encontrarmos pessoas vivas vai ficando mais remota. Passamos, então, a nos preocupar com os destroços, que podem nos ajudar a entender o que aconteceu. Os pallets poderiam ter sido considerados lixo, mas passamos a analisar tudo antes de descartar --- disse o brigadeiro Ramon Cardoso.