Título: Navegando num mar de destroços
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Fonte: O Globo, 08/06/2009, Rio, p. 8

Dezessete corpos são recolhidos por militares, que avistam mais vítimas e partes do Airbus.

Subiu ontem à noite para 17 o número de corpos de vítimas do acidente com o voo 447 da Air France recolhidos no Oceano Atlântico. Nove deles (sendo quatro homens e quatro mulheres, além de um cujo sexo não pôde ser identificado) já estão a caminho de Fernando de Noronha, a bordo da fragata Constituição, que só deve chegar amanhã. A embarcação, que deveria estar a 300 quilômetros do arquipélago hoje, atrasou-se porque, quando viajava com os dois primeiros corpos, localizados anteontem, precisou retornar para recolher sete cadáveres (três recolhidos de manhã e quatro de tarde). As outras oito vítimas foram avistadas e recolhidas por tripulantes da fragata francesa Ventôse, que ontem se juntou às embarcações brasileiras no trabalho de busca. O sexo desses corpos ainda não foi divulgado.

Há outros cadáveres avistados, assim como destroços. Pela manhã, o capitão de fragata Giucemar Tabosa, do Centro de Comunicação Social da Marinha, havia dito que ainda não era possível precisar a quantidade de partes do avião encontrados:

- O pessoal da fragata (Constituição) reportou que estava navegando num mar de destroços.

Distância até Recife é de 1.150km

Para destacar a complexidade da operação de resgate, o tenente-coronel Henry Munhoz, assessor de imprensa da Aeronáutica, lembrou que a distância entre Recife e o ponto onde está sendo encontrada a maioria dos destroços e dos corpos é de 1.150 quilômetros - a mesma de São Paulo a Porto Alegre. Ele disse que uma viagem dessa levaria 18 horas de ônibus.

- Imaginando que o transporte será feito por um navio, que tem limitação muito maior de deslocamento, essas jornadas de tempo serão significativas. Mas é necessário que se compreenda que estamos todos fazendo tudo para que cheguem a Recife o mais brevemente possível - disse Munhoz, em entrevista à noite no Cindacta 3, em Recife.

- Os navios todos estão preparados para recolher e transportar os corpos. As fragatas são mais velozes que as corvetas - acrescentou Tabosa, informando ainda que todas as embarcações têm câmaras frigoríficas para conservar os corpos.

Os dois oficiais informaram também que mais peças do Airbus A330 da Air France, que caiu no mar na noite do dia 31 passado, estão sendo encontradas junto aos corpos. O recolhimento do material é um trabalho feito em paralelo. Segundo eles, a prioridade no momento é o recolhimento dos cadáveres.

- A identificação dos corpos encontrados será feita a partir de um trabalho conjunto dos peritos da Polícia Civil de Pernambuco e da Polícia Federal. Os exames ficarão a cargo dos médicos-legistas e a liberação final dos corpos acontecerá no IML de Recife, enquanto a Polícia Federal auxiliará com os exames genéticos e confrontos de impressões digitais - informou Munhoz.

Ele acrescentou que a busca e o resgate de corpos e destroços são de responsabilidade da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira. Já os objetos encontrados cabem à empresa a aérea e a investigação está a cargo das autoridades francesas.

- A operação durará o tempo que for necessário para que façamos, inicialmente, o resgate dos corpos e, posteriormente, o do maior número de destroços possível - completou o oficial da Aeronáutica.

Segundo o comando da Marinha e da Aeronáutica, as buscas foram intensificadas na área em que os corpos foram localizados.

- O material e os corpos foram resgatados em águas jurisdicionais brasileiras, ou seja, a 200 milhas do território nacional ou em trechos do litoral brasileiro em que a plataforma se estende além dessas 200 milhas. Essas também são consideradas águas jurisdicionais brasileiras, da mesma forma que as 200 milhas no entorno do Arquipélago de São Pedro e São Paulo - explicou Tabosa.

- O controle do espaço aéreo naquela área é de responsabilidade brasileira - acrescentou Munhoz.

No total, seis embarcações (cinco da Marinha brasileira e uma francesa), além de 14 aeronaves (12 nacionais e duas da França) prosseguem com as buscas. O navio-tanque Gastão Motta, que abastecerá os navios que participam das buscas, deve chegar à área dos trabalhos hoje.

Entre os destroços já encontrados, estão centenas de peças da aeronave, como monitores de LCD, máscaras de oxigênio e parte das asas.

- Não há dúvida de que todas as partes que estão sendo encontradas fazem parte do avião acidentado. E que os corpos são das pessoas que estavam nesse voo (o 447) - disse o tenente-coronel Henry Munhoz, acrescentando que, em momento algum, havia sido dito pelos comandos da Aeronáutica e da Marinha que um corpo fora encontrado sentado numa poltrona. - Foram avistadas duas poltronas. E mais estão sendo avistadas, com a logomarca da Air France. A companhia aérea já confirmou que é de um avião daquele modelo (do acidentado), mas não há como confirmar se era especificamente daquela aeronave a poltrona recolhida anteontem, cujo número de série foi enviado à empresa.

Previsão é de mau tempo na área

Segundo o capitão de fragata Tabosa, a previsão do tempo é desfavorável ao cumprimento da missão pelas aeronaves, por causa da redução de visibilidade. Mas o trabalho continuará, concentrado nos pontos onde foram encontrados os corpos, a 70 quilômetros de onde o Airbus da Air France enviou seu último sinal automático de pane.

- Os navios têm pessoas habilitadas para fazer o resgate, como mergulhadores e médico. Elas, que dispõe de botes, também podem se aproximar e, por um processo de içamento, chamado de pau de carga, fazer esse trabalho com todo o cuidado necessário para que não haja danos à estrutura dos corpos - disse Tabosa.

Segundo os oficiais, apenas as famílias estão sendo informadas sobre os objetos pessoais recolhidos, e esses dados não serão divulgados à imprensa. Eles acrescentaram que não vão informar o estado dos corpos e dos materiais encontrados, apenas aos parentes das vítimas, se assim for solicitado. Quanto à possível ida de familiares dos passageiros para Recife, a fim de acompanhar os processos de buscas e reconhecimento, Munhoz disse que essa é uma decisão pessoal, mas que o Cindacta 3 estará à disposição para atender os interessados.

Os corpos serão levados para Fernando de Noronha e, de lá, para Recife. A estrutura para recepção dos cadáveres já está toda montada no aeroporto do arquipélago, com duas câmaras frigoríficas. Peritos da PF chegaram ontem de Recife.