Título: Seis dias após acidente, ainda não há destroços
Autor:
Fonte: O Globo, 06/06/2009, Rio, p. 12

Aeronáutica e Jobim insistem em afirmar que pilotos avistaram peças do Airbus, mas Marinha não encontra nada

RIO, RECIFE e BRASÍLIA. Mais 24 horas se passaram, e as Forças Armadas também não conseguiram resgatar ontem nenhuma peça do avião da Air France. A Aeronáutica continua afirmando que, embora os objetos resgatados anteontem não fossem do Airbus, tem certeza de que localizou destroços que são realmente do avião. Mas a Marinha admitiu que os objetos avistados pelos pilotos da FAB não foram encontrados pelos navios que fazem buscas na área. Entre as peças perdidas está até uma possível parte da fuselagem do Air France, com sete metros de diâmetro.

- Não foi encontrada pelos navios (a peça de sete metros). Pode ter sido avistada pela aeronave, que nos deu uma posição. Nós fomos para lá, mas não encontramos essa peça - afirmou o almirante Edson Lawrence Mariah Dantas, comandante do 3º Distrito Naval, de Recife.

O brigadeiro Ramon Cardoso, chefe do Departamento de Controle Aéreo, justificou que as peças não foram recolhidas imediatamente porque a prioridade, na ocasião, era procurar sobreviventes ou corpos de vítimas.

- Essa possibilidade, tanto de sobrevivente quanto de corpos, fica cada vez mais remota. Nós passamos agora, sim, a fazer a busca e o recolhimento do material que foi encontrado.

Durante o dia, a FAB divulgou até uma animação de computador e mapas detalhados para demonstrar que os objetos localizados pelos aviões da Força Aérea não eram os mesmos içados pelos helicópteros da Marinha. Na apresentação, a FAB apresenta a lista de objetos localizados a cada dia de busca e o ponto exato onde foram avistados.

Para evitar que Marinha e Aeronáutica batam cabeça como anteontem, quando uma Força dizia que os destroços eram do avião e a outra negava, ficou decidido que, de agora em diante, os dois oficiais darão entrevistas juntos e só informarão sobre destroços depois de terem certeza de que são do avião.

"A fim de evitar erros de interpretação na divulgação dos fatos relacionados às buscas da aeronave A-330 da Air France, o Comando da Marinha e o Comando da Aeronáutica decidiram que, a partir de hoje, os avistamentos na área de buscas serão divulgados apenas depois de identificados positivamente como destroços do voo AF 447. Esta identificação só será possível após o recolhimento destes vestígios e a confirmação junto a companhia aérea", diz nota conjunta divulgada à noite.

Em São Borja, no Rio Grande do Sul, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, o primeiro a afirmar terça-feira que os destroços encontrados no mar eram do Airbus da Air France, insistiu ontem que as peças avistadas pelos pilotos - e até agora não recolhidas - são do avião acidentado.

- Uns são (destroços do avião), outros não, são lixos marinhos. Mas há uma série de elementos que dizem e mostram claramente que essa aeronave caiu naquela região.

O ministro minimizou o alarme falso de anteontem, e disse que o mais importante é que as buscas prosseguem, envolvendo oito aviões e dois helicópteros, além da Polícia Federal, que cuidará da perícia junto com a Polícia Civil pernambucana.

- Um Hércules C-130 da FAB já deslocou para lá um contêiner frigorífico para eventuais corpos que possam ser encontrados - relatou Jobim.

Diante de tantas notícias desencontradas, o ministro da Defesa da França, Hervé Morin, anunciou ontem que seu país vai enviar um submarino nuclear para tentar recuperar as caixas-pretas do Airbus. O anúncio foi feito na Associação de Jornalistas da Imprensa Aeronáutica. O submarino "SNA Emeraude" deverá chegar à zona de buscas na próxima semana. Ele começará os trabalhos a partir da última posição conhecida do Airbus.

Segundo o jornal "Libération", o "SNA Emeraude" usará seus sistemas de detecção acústica para tentar captar sinais emitidos pelas caixas-pretas.

- Nós estamos nos limites de nossas capacidades - disse um oficial da Marinha francesa ao "Libération".

Ontem, segundo os militares brasileiros, o mau tempo prejudicou as buscas. O brigadeiro Cardoso disse que a situação meteorológica da região atrapalhou inclusive o trabalho do avião R99, equipado com radares especiais. Nada foi encontrado. As peças avistadas foram levadas por correntezas.

- Voltamos para algumas áreas onde os destroços haviam sido avistados, para ver se eles são revisualizados - disse o brigadeiro.

- Até o momento não tem destroço. Fomos a essas localidades e não encontramos nada - disse o almirante Dantas.