Título: Sinais fracos de recuperação
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2009, Economia, p. 22

Reação

Crescimento inesperado das vendas de casas novas e das encomendas à indústria levantam esperanças, mas analistas continuam pessimistas. Secretário diz que norte-americanos se endividaram demais

A divulgação de dois indicadores positivos ontem acendeu as esperanças de que a economia dos Estados Unidos pudesse ter batido no fundo do poço, de onde emergiria daqui para frente. As encomendas de bens duráveis feitas às indústrias e as vendas de casas novas subiram após sete meses em queda livre. Com os bons números, o otimismo se espalhou principalmente entre os empresários norte-americanos, mas logo foi refreado pelos relatórios diários das consultorias. Na visão dos economistas, o nível de atividade no país continuará muito fraco e uma leve recuperação só virá no fim do ano, na melhor das hipóteses.

¿Não acredito que esses números signifiquem uma reversão na tendência de queda generalizada. Não se trata ainda do início da retomada do crescimento¿, disse o economista Filipe Albert, especialista em economia internacional da Tendências Consultoria. Em fevereiro, 337 mil imóveis residenciais novos foram vendidos no país, numa expansão de 4,7% em relação a janeiro. Os analistas estimavam uma queda de 2,9%. Em relação a fevereiro de 2008, entretanto, a retração foi de 41,1%. Num sinal de que a crise ainda está presente, os preços médios das casas caíram 18,1%.

A outra boa notícia veio da indústria. A demanda dos demais setores por bens duráveis cresceu 3,4% no mês passado, interrompendo uma sequência de seis meses de contração. A média dos analistas de mercado esperava um encolhimento de 2%. Segundo as estatísticas do Departamento de Comércio, excluindo o segmento de transportes, a taxa de expansão sobe para 3,9%. Para Albert, o aumento nas vendas está relacionado à queima de estoques, que se mantinham muito grandes por causa da brutal diminuição da demanda doméstica e externa. ¿Outros indicadores industriais, como a produção nos principais centros do país, continuam muito ruins¿, disse.

Segundo Albert, ao longo do segundo trimestre é possível que alguns indicadores se recuperem um pouco, deixando de ser ¿catastróficos¿. A economia ainda sofre pelo sumiço do crédito a empresas e consumidores, problemas insolúveis nos balanços das principais instituições financeiras, desemprego, estoques muito elevados de residências e demanda fraca. No segundo semestre, os EUA podem deixar de andar para trás, mas ficarão parados no mesmo lugar. ¿O resultado deste ano já está comprometido pelo desabamento que houve no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009. Se todas as medidas que o governo está tomando derem certo, pode ser que se ensaie uma retomada no fim do ano¿, disse.