Título: Maior barragem do NE sem plano de emergência
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 07/06/2009, O País, p. 9

Cerca de 600 mil pessoas vivem na área do reservatório

BRASÍLIA. A Barragem do Castanhão, no Ceará, maior reservatório de água no Nordeste, não tem plano de contingência para retirada dos moradores em caso de rompimento. É o que diz o coordenador-geral do Complexo do Castanhão, José Ulisses de Souza. A obra é administrada pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs).

Segundo José Ulisses, cerca de 600 mil pessoas vivem na área de risco. A barragem foi construída há oito anos. Um paredão de 70 metros de altura e 1.400 metros de comprimento, no Rio Jaguaribe, armazena 6 bilhões de metros cúbicos de água, o equivalente a duas Baías da Guanabara, segundo o Dnocs.

O coordenador diz que já teve início um levantamento topográfico necessário para medir o impacto de um eventual rompimento:

- A elaboração do plano de contingência vai começar este ano, através da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros.

Para secretária, o povo se assusta facilmente

José Ulisses diz que um complexo mecanismo de sensores, inclusive no subsolo, monitora as condições da barragem. Os dados são analisados semanalmente pelo coordenador e por dois funcionários que moram no Castanhão, que fica a seis quilômetros do município de Nova Jaguaribara. Um engenheiro também está 24 horas no local, em sistema de revezamento.

Para o coordenador, o segredo contra desastres está na capacidade do chamado sangradouro ou vertedouro da barragem - mecanismo por onde a água escoa em caso de enchente. No Castanhão, o vertedouro tem capacidade para retirar quase o triplo da maior vazão de água já registrada no Rio Jaguaribe.

A secretária nacional de Defesa Civil, Ivone Maria Valente, diz que a população das regiões de seca não está acostumada a ver barragens cheias, e por isso se assusta facilmente. Acostumados à seca, segundo ela, muitos moradores dessas regiões ocupam áreas próximas dos leitos de rio, o que aumenta o risco de mortes em caso de acidentes.

Ivone considera que um dos desafios para melhorar a Defesa Civil no país é treinar as equipes municipais. Em tese, todas as cidades deveriam ter agentes preparados para emergências. Só que, na prática, isso não ocorre. Segundo ela, a situação costuma piorar quando um novo prefeito toma posse, por conta da descontinuidade administrativa:

- Estamos ainda engatinhando na cultura de prevenção. O brasileiro tem cultura imediatista. Na área de prevenção, existem poucas iniciativas sistematizadas - conclui a secretária, chefe do órgão responsável pela prevenção.