Título: Lula quer evitar saída em massa de ministros no último ano de mandato
Autor: Lima, Maria; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 07/06/2009, O País, p. 4

Mais da metade do primeiro escalão vai deixar governo para disputar eleições

Maria Lima e Luiza Damé

BRASÍLIA. Na reta final de seu mandato, ano que vem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá que governar sem a companhia de pelo menos 22 dos seus 37 atuais ministros, que deixarão os cargos para disputar eleições para deputado, senador, governador e presidente. Para evitar o impacto de uma grande mudança ministerial em março, quando vence o prazo de desincompatibilização, auxiliares e articuladores políticos de Lula defendem uma minirreforma, a partir do segundo semestre deste ano. O ponto de partida para as alterações seria a saída do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que deve ocorrer três ou quatro meses depois de sua indicação por Lula para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), prevista para este mês.

Lula evita tratar do assunto em grandes grupos, justamente para conter a onda de especulações que antecedem normalmente as mudanças no Ministério. Mas, nas reuniões mais reservadas do Planalto e em conversas com políticos durante os voos que faz pelo Brasil e o mundo a bordo do Aerolula, ele já cogitou essa possibilidade.

- Eu diria que o presidente Lula pode fazer uma escala. Em vez de tirar todo mundo em março, de uma só vez, vai começar a trocar por lote. Poderia ser de cinco em cinco de cada vez para evitar um vácuo muito grande - diz um dos interlocutores do presidente.

- A possível saída do ministro José Múcio pode desencadear, sim, uma alteração já em setembro - diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), abordado sobre essa possibilidade.

Pior que a debandada na Esplanada será o esvaziamento interno, no Planalto. O núcleo da coordenação, onde estão os principais conselheiros de Lula e tocadores do governo, ficará sem a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata à Presidência, e sem os ministros José Múcio, Tarso Genro (Justiça) e Paulo Bernardo (Planejamento).

Presidente cogita volta de Palocci

Desse grupo de coordenação, Lula deve ficar apenas com o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins, e o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. Foi justamente por isso que Lula vetou a ida de Carvalho para a presidência do PT, em novembro.

Nas pastas técnicas, em 2010, a opção deverá ser pela efetivação dos secretários-executivos como ministros, até para não provocar disputa entre aliados. Mas nos ministérios mais políticos, embora as opções sejam poucas - já que todas as estrelas querem concorrer a um mandato eletivo -, a ideia é pôr nomes de peso. É o caso do ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP).

O sonho de Lula sempre foi ter de volta no governo o ex-ministro da Fazenda, que poderia substituir Múcio e, em março, quando Dilma sair, ser transferido para a poderosa Casa Civil. Nas pastas políticas, ele deve aproveitar, além de Palocci, algumas estrelas que estão sem chances ou não desejam disputar eleições majoritárias. É o caso de Ciro Gomes (PSB-CE), sem chances, por enquanto, na corrida presidencial, e sem vontade de voltar à Câmara.

Mas a hipótese de antecipar mudanças no Ministério preocupa o PT e divide aliados. O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e outros governistas consideram perigoso, às vésperas da eleição, abrir brechas para mais disputa política na substituição desses ministros. Por isso defendem que secretários e outros técnicos ocupem esse espaço.

- Existem os projetos em curso (no governo), e quem os coordena são os secretários executivos. No núcleo de coordenação do Planalto também não acho que o presidente Lula vá fazer grandes invenções. O ministro da Casa Civil do Fernando Henrique era o Pedro Parente, um técnico. A Casa Civil ganhou mais peso político no governo Lula. Por que não poderia ser a Erenice Guerra a substituta? A equipe da Dilma tem bom lastro técnico e político - diz Berzoini, referindo-se à secretária-executiva da Casa Civil.

- Acho que esse vácuo tem de ser ocupado pelos imediatos dos ministros que estão saindo. Esse é o caminho para evitar mais problemas entre os aliados. O Hélio Costa (Comunicações) vai sair, e vão colocar quem? Tem que ser um técnico para evitar a disputa - concorda o senador Renato Casagrande (PSB-ES).

Mas o líder do PMDB na Câmara diz que alguns casos pontuais podem ter solução diferente, atendendo, por exemplo, sugestões dos aliados:

- Isso é um critério exclusivo do presidente Lula. Mas ele poderá examinar caso a caso sugestões do PMDB, quando o partido tiver argumentos convincentes que não alterem a rotina administrativa da pasta - diz Henrique Eduardo Alves.

Governo é vitrine para candidatos

Os ministros políticos evitam falar em data de saída, alegando sempre que a decisão é de Lula. Muitos que vão se candidatar pretendem ficar no governo - e ter visibilidade - até o prazo final de março. Outros cogitam sair antes para dedicar mais tempo às campanhas. Mas só Lula decidirá, dizem.

- Estou trabalhando. Quando o presidente pedir para eu sair, saio feliz como entrei. Para mim não faz diferença ficar mais ou menos tempo como ministro - diz o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, negando pedido para sair em setembro, como se especulou.

Com a saída de Dilma, a principal gestora do PAC - maior vitrine da campanha de 2010 - o ministro das Cidades, Márcio Fortes, pode ignorar os apelos do seu partido, o PP, e continuar no governo para reforçar o programa. Dirigentes do PP consideram que ele é um ótimo puxador de votos. Na convenção do partido, houve até quem defendesse sua candidatura à Presidência. Mas, pelo menos por enquanto, sua intenção é ficar:

- O presidente Lula pode contar comigo. Meu desejo é continuar ministro, se o presidente quiser.