Título: Lula afirma que políticos são movidos por razões eleitorais ao não condenarem ocupações irregulares
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 10/06/2009, O País, p. 3

Quando somos oposição, somos doidos para incentivar invasão. Quando viramos situação, ficamos doidos para achar o culpado. Quando se tem mil (barracos), aí não se mexe mais. Sobretudo para os que têm título de eleitor

Chico de Gois

Em mais uma autocrítica, ainda que feita de forma indireta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, quando está na oposição - onde passou a maior parte de sua vida político-partidária -, o político tem mania de incentivar ocupações irregulares, mas, quando passa a ser governo, ataca quem provocou a invasão. Segundo o raciocínio de Lula, o governante, mesmo reclamando, depois não retira mais o invasor, sobretudo se ele tem título de eleitor.

O presidente fez essa avaliação, ontem, no lançamento do PAC Drenagem, que prevê o repasse de R$4,7 bilhões para 18 estados e 109 municípios (dez deles no Rio) atingidos pelas enchentes. Lula, que reiteradas vezes acusou governos anteriores por problemas que perduram até hoje, voltou à carga, mas sem citar nomes. Disse, diante de uma plateia de prefeitos e governadores, que sua geração política é a responsável por reparar os danos.

- Se os governantes agissem de forma mais responsável no Brasil, a gente não tinha as pessoas morando nos lugares mais inadequados, como elas moram. E aí também não pensamos, porque, quando nós somos oposição, somos doidos para incentivar uma invasão. Quando viramos situação, ficamos doidos para resolver o problema e achar quem é o culpado daquela invasão. Todo mundo aqui sabe do que eu estou falando - discursou. - Todo mundo aqui já fez uma passeatinha, uma marcha, uma caminhada. Em nenhum momento nós fomos capazes de dizer: "Companheiro, vamos brigar para arrumar uma terra para você, mas não pode ser aqui".

De acordo com o presidente, há uma motivação eleitoral para que governantes não retirem os invasores de locais inadequados:

- Quando se tem mil (barracos), já virou um problema social e aí não se mexe mais. Sobretudo para as pessoas que têm título de eleitor.

Como tem feito frequentemente, Lula voltou a criticar os agentes fiscalizadores de obras e projetos com dinheiro público, e disse que a paralisação de empreendimentos por alguns meses pode ter o mesmo efeito, em termos financeiros, do que um eventual superfaturamento.

- Tem sempre uma vírgula que impede a coisa de acontecer. Aí, não procuremos culpados. O culpado é sempre o que está à nossa frente, mas, às vezes, a culpa é de todos nós. Eu não posso paralisar uma obra, porque o custo de paralisar uma obra às vezes é maior do que o valor que a pessoa entendeu que a obra estava superfaturada (sic). Tem de ter fiscalização rígida. Agora, fiscalização rígida e séria é diferente de fiscalização dura e irresponsável - disse.

Ao salientar que caberá aos futuros governantes resolver problemas relacionados às enchentes, o presidente contou que já sente saudade do governo:

- Já estou terminando meu mandato. Está faltando um ano e meio. Estou com saudade...

Ao ouvir a frase, um participante do evento chegou a gritar, isoladamente, "terceiro mandato".