Título: CPI só em português
Autor: Romano, Roberto
Fonte: O Globo, 10/06/2009, O País, p. 4

Petrobras minimiza notícias nas versões internacionais de seu site

BRASÍLIA. Numa aparente tentativa de esvaziar a CPI criada para apurar denúncias contra a Petrobras, o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, afirmou segunda-feira que o impacto da investigação no exterior seria "pequeno e limitado". No que depender da empresa que ele comanda, continuará assim. Na contramão do discurso de transparência na internet, a Petrobras adotou critérios diferentes para informar a imprensa brasileira e a estrangeira sobre as polêmicas que envolvem sua gestão.

A tática de ocultar notícias comprometedoras do público externo pode ser conferida numa visita ao site da estatal. Ontem à tarde, os assuntos relacionados à CPI eram tema de quatro das seis principais chamadas da Agência Petrobras de Notícias, que distribui as notas da empresa aos jornalistas brasileiros. Nas versões da página em inglês e espanhol, a investigação passava praticamente batida: a única menção a ela era uma nota de três parágrafos, publicada duas semanas atrás.

Devido ao esforço para evitar a "globalização" da CPI, o jornalista estrangeiro pode ficar sem saber que a estatal criou um blog para contestar denúncias e vazar informações obtidas pelos jornais brasileiros. A polêmica iniciativa simplesmente não é mencionada na "Petrobras News Agency" ou na sua equivalente em espanhol. Todas as versões do serviço são mantidas pela gerência de Comunicação Institucional da estatal, chefiada por Wilson Santarosa.

O site brasileiro ainda destaca notas em que a Petrobras rebate críticas da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e reclama da "maneira condenável" como a imprensa estaria trabalhando. Outra chamada apresenta a transcrição da entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, em que Gabrielli tentou atenuar a repercussão da CPI no exterior.

- Se você faz uma análise da imprensa internacional, deve encontrar uma matéria somente sobre a CPI. Consequentemente, o impacto ainda é muito pequeno, muito limitado, muito concentrado no Brasil - disse Gabrielli.

Quando um dos entrevistadores começou a citar reportagens publicadas na imprensa internacional, Gabrielli o interrompeu, numa nova tentativa de minimizar o impacto das publicações.

- É, mas são duas matérias, inclusive muito genéricas, muito pouco específicas sobre a CPI. Então, consequentemente, enquanto isso não chega a uma discussão mais ampla no mercado internacional, o efeito é pequeno - sentenciou o presidente da Petrobras.