Título: Lula demonstra alívio, mas indústria preocupa
Autor: Gois, Chico de; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 10/06/2009, Economia, p. 30

PANCADA MENOR: Após dizer que ficou triste com recessão, presidente afirma que existem "sinais enormes" de reação

Presidente pede explicações à equipe econômica para a queda também no agronegócio e cobra soluções

BRASÍLIA. O governo recebeu, aliviado, o resultado do PIB do trimestre divulgado pelo IBGE. No entanto, o quadro de recessão técnica confirmado com a retração de 0,8% preocupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi informado do resultado logo pela manhã, com detalhes, pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo.

- Ele (Lula) está muito preocupado com os indicadores da indústria e quis saber detalhes, porque o agronegócio caiu. Expliquei que um dos fatores foi a safra de milho e de algodão, que afetaram negativamente o resultado. Ele questionou o que pode ser feito e no que dá para mexer - relatou Paulo Bernardo.

O próprio presidente revelou seu descontentamento, ao lançar o PAC Drenagem. Lula disse que existem "sinais enormes" de recuperação econômica, enfatizou que os investimentos que o governo vem fazendo é um dos instrumentos de combate à crise, mas se disse triste.

- Eu fiquei triste, pois a gente vinha num crescimento tão extraordinário, com 5% ou 6%, estávamos numa situação tão boa, e de repente vem uma crise. Eu continuo acreditando, pelos números, que nós fomos o último país a entrar na crise e que vamos ser o primeiro a sair.

Cuidado para manter estímulo ao crédito

Aos governadores e prefeitos presentes ao evento, ele fez um apelo em favor das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida.

- Tem dinheiro. O desafio é saber se teremos competência para realizar.

Lula telefonou para os ministros antes das 8h, convocando-os para uma reunião. Durante quase uma hora, examinou os dados do IBGE. O presidente quis saber detalhes de cada setor: indústria, construção civil e os indicadores posteriores a março, mostrando um desempenho melhor da economia no segundo trimestre.

- O presidente está preocupado em manter as medidas em relação ao crédito - disse o ministro do Planejamento.

Para Bernardo, o resultado reforça a convicção do governo de que a economia brasileira pode crescer 1% neste ano. Ele destacou o fato de o resultado estar bem melhor do que a expectativa do mercado, mas, ainda assim, procurou evitar euforia.

- O mercado estava fazendo uma posição muito negativa. Eles erraram muito mais do que nós nesta última projeção. É verdade que se trata de um resultado negativo, mas claramente não é tão negativo como se estava projetando - disse.

"Todo mundo esperava que teríamos um contágio maior"

O ministro da Fazenda lembrou que a retração foi menor do que se esperava. Cálculos preliminares da equipe econômica previam queda de 1,5% sobre o último trimestre de 2008.

- Foi um resultado melhor do que o projetado. Ficamos satisfeitos e o presidente Lula também - disse Mantega.

Na opinião de Mantega, os dados do primeiro trimestre refletem a redução dos investimentos da indústria de transformação. No entanto, a queda foi amenizada pelo mercado interno, movimentado pelo consumo das famílias e do governo, por meio de sua política fiscal anticíclica.

- Este cenário (do primeiro trimestre) já é o passado, é um olhar pelo retrovisor. A economia já está dando sinais de recuperação e está melhor que outras economias do mundo. Todo mundo esperava que nós teríamos um contágio maior, mas já há um descolamento da crise - disse. - O PIB que estamos olhando é um PIB velho. Se olharmos para frente, estamos vendo recuperação.