Título: Industriais queriam um corte maior
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 11/06/2009, Economia, p. 26

CNI, Fiesp e Fecomércio criticam BC. Força Sindical fala em decisão tímida.

SÃO PAULO. Apesar do corte de um ponto percentual na Taxa Selic, empresários do setor industrial e dirigentes de centrais sindicais avaliam que ainda há espaço para uma queda maior dos juros e cobraram mais ousadia do Banco Central. Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) foi "positiva e em sintonia com o ajuste rápido e intenso de que o Brasil necessita", mas insuficiente para eliminar os sinais desfavoráveis que persistem na economia.

- O resultado do PIB do primeiro trimestre, apesar de melhor do que o esperado pelo mercado, mostra a extensão do forte impacto recessivo que o Brasil sofreu com a crise internacional - disse ele, acrescentando que é importante o Copom manter o ciclo de redução da Selic, até a situação econômica voltar ao nível pré-crise.

Mais contundente, o presidente da Fiesp, entidade que reúne os industriais paulistas, Paulo Skaf, disse que, mesmo chegando a um dígito, fato inédito, o país ainda mantém uma taxa real de juros próxima a 5%, uma das mais elevadas do mundo. Segundo Skaf, a política de redução dos juros conduzida pelo Copom tem sido lenta e "fora da realidade" da economia brasileira.

- Nada explica juros básicos superiores a 7% ao ano, o que já equivaleria a três pontos percentuais acima da inflação - criticou Skaf.

Para o presidente do Instituto de Executivos de Finanças (Ibef), Walter Machado de Barros, o BC "perdeu um excelente oportunidade" de colocar os juros básicos em um patamar favorável à cadeia produtiva. Segundo ele, o ideal seria um corte maior da Selic, para acelerar a produção e as exportações.

- Essa decisão deverá atrasar o processo de retomada das exportações e continuará exercendo pressões desnecessárias sobre o câmbio - avaliou Barros.

Já a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) avalia que o Copom está no caminho certo, mas ainda falta o governo criar oportunidades para reduzir os juros também na ponta de consumo. Segundo a Fecomércio, ainda existe espaço para a redução dos spreads bancários e, consequentemente, de juros ao consumidor.

- Há espaço para uma redução de pelo menos 25% no spread se houver empenho conjunto de bancos e do governo - afirmou Abram Szajman, presidente da Fecomércio-SP.

A redução de ontem da Selic foi "muito tímida e insuficiente para aquecer o consumo", na avaliação da Força Sindical.