Título: Brasil se torna credor do FMI, com a compra de US$10 bilhões em bônus
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 11/06/2009, Economia, p. 29

Dinheiro será usado em empréstimos para fomentar comércio mundial

BRASÍLIA e WASHINGTON. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que o Brasil vai utilizar US$10 bilhões de suas reservas internacionais para aumentar o poder de fogo do Fundo Monetário Internacional (FMI), conforme antecipou O GLOBO em abril passado. Os recursos - cerca de 5% dos US$205 bilhões em reservas - são uma forma de o governo brasileiro contribuir para o montante de US$500 bilhões que o Fundo pretende usar em empréstimos que incentivem, principalmente, a retomada do comércio mundial, prejudicado pela atual crise financeira.

- No passado, era o contrário: o FMI socorria o Brasil, que era um país menos sólido. Agora, o Brasil acumulou reservas para ajudar a comunidade internacional - disse Mantega, destacando que, pela primeira vez, o país será credor do FMI.

Os US$10 bilhões serão usados na compra de bônus do Fundo, expressos em Direito Especial de Saque (DES) - espécie de moeda do FMI. Nos últimos dias, a Rússia anunciou que vai adquirir US$10 bilhões desses títulos e a China, US$50 bilhões. Espera-se que a Índia faça anúncio semelhante.

Lula: ação dá "autoridade" para reivindicar mudanças

Para Lula, a iniciativa dá ao Brasil "autoridade moral para continuar" reivindicando mudanças no FMI.

- Esse dinheiro entra como empréstimo, e o fato de entrar como empréstimo não diminui nossas reservas. O Brasil não poderia ficar de fora (da contribuição ao FMI) - disse Lula à agência de notícias Reuters.

Mantega explicou que, na prática, o que vai ocorrer é uma diversificação das reservas internacionais. Elas hoje são compostas principalmente de títulos do governo americano, mas também de outros ativos, como dólares e até mesmo DES. Com a nova operação, a participação dos DES vai aumentar nas reservas. A Rússia fará o mesmo.

O ministro não informou qual será o rendimento dos bônus do FMI (que ainda estão sendo preparados), mas ressaltou que não será elevado:

- É claro que não vamos esperar um grande rendimento, pois o FMI teria que repassar os custos para os países em desenvolvimento que vão tomar os empréstimos.

Em comunicado, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que "o Brasil, mais uma vez, reafirma seu forte papel como uma economia de mercado líder".

Mantega nega estratégia de enfraquecer o dólar

Os anúncios de ajuda ao Fundo acontecem uma semana antes do encontro que vai reunir, na cidade russa de Ecaterimburgo, os Brics (sigla para Brasil, Rússia, China e Índia). Um dos temas deverá ser as alternativas para o dólar como moeda de reserva internacional.

Mantega afirmou, porém, que a compra dos bônus não é uma estratégia para enfraquecer o dólar, mas um reconhecimento da importância de outros ativos nas transações internacionais:

- Não nos interessa enfraquecer o dólar, porque isso significa valorização do real, o que prejudica as exportações. Não queremos enfraquecer o dólar, mas, sim, fortalecer os Direitos Especiais de Saque.

O ministro lembrou que a operação não vai mudar a participação do Brasil no FMI. O país hoje detém cotas - expressas em DES - que equivalem a US$4,7 bilhões. Ou seja, o Brasil poderá colocar um total de até US$14,7 bilhões no Fundo. (Com agências internacionais)