Título: Oposição admite ceder pela CPI da Petrobras
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/06/2009, O País, p. 8

DEM e PSDB avaliam tirar Virgílio da relatoria da CPI das ONGs para acabar com impasse que paralisa nova comissão

BRASÍLIA. Ao perceber a estratégia do Palácio do Planalto de tentar adiar para agosto a instalação da CPI da Petrobras, a oposição já discute a possibilidade de abrir mão da relatoria da CPI das ONGs. Com isso, DEM e PSDB querem forçar o governo a solucionar o impasse que impede o início dos trabalhos na CPI da Petrobras. A oposição identificou que já houve a pacificação da base governista, e que a ordem no governo é usar o impasse como desculpa para desviar o foco das denúncias envolvendo a estatal.

Na próxima semana, as cúpulas de DEM e PSDB devem se reunir para analisar a conveniência de insistir em manter a relatoria da CPI das ONGs com o líder tucano, senador Arthur Virgílio (AM), desde que o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) foi destituído do cargo, ao ser indicado como titular da segunda CPI. O governo tem dado sinais de que não tem pressa para resolver essa pendência, pois joga para a oposição a responsabilidade pela demora em iniciar os trabalhos da CPI.

- Definitivamente, o governo entende que é melhor não instalar a CPI da Petrobras. Mas não podemos frustrar a expectativa nacional. O governo não tem esse direito. Nem a oposição vai abrir mão dessa investigação - afirmou o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

- Devemos evitar dar pretexto para que o governo não instale a CPI da Petrobras. Está claro que o medo do governo não é com o que já foi divulgado, mas sim com as denúncias que ainda estão escondidas - disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

A oposição começou a fazer uma avaliação pragmática sobre a situação. Mas precisa encontrar uma saída para tentar evitar o constrangimento com o presidente da CPI das ONGs, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), e o novo relator, o tucano Arthur Virgílio.

Heráclito: "A CPI das ONGs já não está funcionando"

Ontem, o próprio Heráclito sinalizou que deverá tomar uma decisão baseada em seu partido. Ele criticou a postura do governo de tentar inviabilizar as CPIs das ONGs e da Petrobras:

- A bola está com o governo. Até porque a CPI das ONGs já não está funcionando. Por isso, não é por aí essa história de vincular a instalação de uma CPI com outra. Agora, essa será uma decisão partidária.

Até então, o governo estava usando o impasse no Senado para evitar instalar a CPI da Petrobras com a base governista dividida. Isso porque o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), demonstrava forte resistência à indicação do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), para a relatoria da CPI. O Planalto chegou a avaliar o gesto de Renan como uma forma de manter o governo refém durante os 180 dias de investigação.

Mas, depois de uma atuação direta do presidente Lula, houve um entendimento na base aliada. Anteontem, Lula teve um encontro com Jucá. Ficou praticamente decidido que o líder do governo será o relator da CPI, no momento de sua instalação, depois que Renan retirou o veto ao peemedebista. Mas com a base aliada reunificada, a ordem do governo é manter a estratégia de empurrar com a barriga a instalação da CPI.