Título: A 1ª pandemia do século XXI
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Fonte: O Globo, 12/06/2009, O Mundo, p. 22

OMS eleva alerta da gripe suína para o nível mais alto e adverte países a reforçarem defesas

Depois de atingir todos os continentes, a gripe suína foi ontem declarada oficialmente uma pandemia - a primeira em 41 anos - pela Organização Mundial de Saúde, que pediu a governos do mundo inteiro que se preparem para uma longa batalha e reforcem as defesas contra um vírus "que não pode ser detido". O anúncio, feito após uma reunião de emergência em Genebra, indica que o alerta contra a gripe A (H1N1) chegou à fase 6, o nível mais alto da escala. A gripe, que surgiu no México, já atingiu ao todo 74 países, com quase 29 mil casos registrados e pelo menos 144 mortes.

A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, explicou que a medida não está relacionada ao aumento da gravidade ou do número de mortes, mas à expansão do vírus - considerado moderado, até o momento.

- Estamos nos primeiros dias de uma pandemia global - disse Chan. - O vírus está passando com facilidade de uma pessoa a outra, e de um país para outro. Com o anúncio, a OMS passa de um estado de emergência para um combate a longo prazo. Essa pandemia permanecerá conosco por meses, se não anos.

A mudança para a fase 6 já era esperada há semanas, e na opinião de alguns especialistas veio com certo atraso. Pela definição da OMS, isso significa "transmissão entre comunidades", demonstrando que o vírus passa de pessoa a pessoa sem uma cadeia facilmente rastreável de infecção, em duas ou mais regiões do mundo. A OMS estava relutante em elevar o alerta devido ao temor de que isso gerasse pânico. Contribuiu o fato de o vírus ser menos letal do que alguns especialistas previam. Houve também a pressão dos países na demora do anúncio. Com a elevação do alerta, fabricantes de medicamentos deverão acelerar a produção da vacina - que ainda deveria levar pelo menos três meses - e os governos deverão destinar mais dinheiro para conter o vírus.

Em países tão diferentes como Austrália, Chile e Estados Unidos, a nova gripe está se tornando mais predominante do que a gripe sazonal. Especialistas alertam que os países pobres, especialmente no Hemisfério Sul com a chegada do inverno, enfrentam um grande risco. Ao contrário da gripe comum, que atinge mais idosos e crianças, a gripe suína está contaminando mais pessoas entre 30 e 50 anos. Mulheres grávidas e pessoas que já têm de doenças crônicas, como asma e diabetes, correm mais risco.

México pode sofrer 2ª onda da gripe

Por enquanto, o vírus está estável, mas Chan advertiu que ele ainda pode sofrer mutação, tornando-se mais letal, adquirindo características do H5N1, o vírus da gripe aviária - que não é transmissível entre pessoas. Segundo ela, é importante que a OMS e todos os membros permaneçam alerta para o próximo ano ou os próximos dois, talvez mais. Ela advertiu ainda os países onde a doença já atingiu o pico, como o México, que permaneçam vigilantes e que se preparem para uma segunda onda da doença que pode ser potencialmente mais perigosa. O governo mexicano decidiu manter o alerta estabelecido em 23 de abril.

- Quando a primeira onda termina, comecem a se preparar para a segunda. O vírus faz as regras e este, como todos os vírus de gripe, pode mudar as regras sem lógica alguma - disse Chan.

A reunião de emergência ocorreu após um rápido aumento nos casos na Austrália, que já registrou 1.263 pacientes, assim como no Reino Unido, Chile e Japão, entre outros países.

Esta é a primeira pandemia mundial desde a de 1968, que começou em Hong Kong e matou cerca de um milhão de pessoas no mundo. Atribuem à Gripe Espanhola, de 1918, de 20 milhões a 50 milhões de mortes, enquanto gripes comuns matam de 250 mil a 500 mil pessoas ao ano. A gripe suína parece mais moderada e causa sintomas leves na maioria dos casos.

- Nenhuma outra pandemia foi detectada tão cedo ou acompanhada tão de perto - disse Chan.

Há pouco mais de meio século, eram necessários de seis a nove meses para uma doença cruzar o planeta, já que a maioria das viagens era de trem ou navio. Agora, bastam 24 horas. A extensão da gripe suína é praticamente mundial. O H1N1 já foi identificado em 29 países europeus, três norte-americanos, seis do Oriente Médio, 11 do Leste Asiático, 16 na América Central e Caribe e seis na América do Sul. Na África, há 10 casos registrados no Egito, mas fontes da OMS suspeitam de contágio em mais seis países. A organização, no entanto, não recomendou o fechamento de fronteiras ou qualquer restrição à movimentação de pessoas.

Os números de infectados correspondem apenas às pessoas que procuraram serviço médico e foram testadas, com as autoridades acreditando que os índices sejam muito maiores. Nos EUA, já passam de 13 mil casos, e o governo autorizou US$1 bilhão para o desenvolvimento de uma vacina. No México, são mais de 6 mil, com cerca de 30 registros diários.

Em Hong Kong, já traumatizada pela pandemia anterior, as autoridades determinaram ontem o fechamento de todas as creches e escolas de ensino fundamental por duas semanas, após o relato de 12 casos.

- O vírus continua se expandindo pelo mundo e sua atividade está aumentando em vários países - disse o diretor-geral adjunto da OMS, Keiji Fukuda.