Título: A passos mais lentos
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 13/06/2009, Economia, p. 19

Apesar de desempenho econômico melhor que o de países ricos, Brasil perde para China e Índia

Em um quadro de recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de retração na atividade econômica, o Brasil vem sentindo menos que as nações desenvolvidas os efeitos da crise financeira. Ao mesmo tempo, apresenta performance inferior à de emergentes como China e Índia. Estes países cresceram, respectivamente, 6,1% e 5,8% no primeiro trimestre de 2009, frente a igual período do ano passado, enquanto a economia brasileira recuou 1,8% na mesma base de comparação. Na avaliação de analistas ouvidos pelo GLOBO, porém, há sinais claros de que o Brasil já começou a se recuperar das turbulências. Só que a passos mais lentos do que os outros atores globais em fase de desenvolvimento.

- Houve certo exagero no pessimismo em relação à capacidade dos países emergentes em combater a crise. Mas, olhando os bons resultados de China e Índia, nota-se que o Brasil agiu menos do que poderia - analisa o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Diferenças na resposta à crise

Segundo ele, apesar da redução dos juros para patamares inéditos (na quarta-feira a Taxa Selic caiu pela primeira vez a um dígito: 9,25% ao ano), o país está deixando passar a oportunidade de romper travas na política econômica. Agostini ressalta que China e Índia conseguiram segurar parte de seu crescimento, apoiados em enormes mercados internos e na rápida atuação das autoridades locais em adotar medidas de estímulo à produção.

- A China ainda está em um ritmo insuficiente, mas está longe de um colapso, pois um escudo de mais de US$1 trilhão em reservas possibilitou ao país manter os fundamentos e adotar uma política agressiva de incentivos - explicou. - Já a Índia continuou investindo no capital intelectual e na prestação de serviços, pouco afetados pela turbulência.

Na comparação regional, no entanto, o diretor do escritório brasileiro da Comissão Econômica para América Latina (Cepal), Renato Baumann, observa que o Brasil é o país em melhor situação. O economista aponta a forte entrada de investimento estrangeiro direto e na bolsa de valores como sinal de que o mercado nacional é bem visto pelo resto do mundo.

Segundo ele, a economia brasileira é relativamente fechada em comparação com a de nossos vizinhos e, portanto, o país foi menos afetado pela retração do comércio mundial. Ele citou o Chile, que computou queda de 2,1% no PIB, devido à queda das exportações. E a Argentina, cujo resultado ainda não foi divulgado, tem dificuldades em exportar produtos, como carne e trigo.

- Entre os latinos, o caso mais grave é o do México, cujo PIB caiu 8,2%, devido à forte correlação com o ciclo de negócios americano e à queda das remessas de mexicanos, que perderam seus empregos - diz Baumann.

Um novo ator de peso na economia global, com resultado pouco melhor que o brasileiro foi a África do Sul, com recuo de 1,3% do PIB. Já a Rússia viu sua economia dependente das exportações do petróleo despencar 9,5%.

O Brasil está à frente ainda de economias desenvolvidas, que sentiram de modo mais intenso a turbulência global. O PIB da zona do Euro recuou 4,8% no primeiro trimestre. EUA (-2,5%), França (-3,2%), Alemanha (-6,9% e Japão (-9,7%) também registraram fortes quedas.