Título: Amorim diz que o G-8 morreu e defende presença dos Brics em fóruns
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Fonte: O Globo, 13/06/2009, Economia, p. 20

Estímulo fiscal contra a crise será tema principal da cúpula das 8 nações

PARIS e LECCE, Itália. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, decretou ontem o fim do grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia, o G-8, revelou ontem o site da BBCBrasil. A afirmação do chanceler brasileiro ocorre às vésperas da reunião do G-8, na Itália, com a crise econômica global na pauta de discussões, mas cuja arena de discussão tem ocorrido no âmbito do G-20, grupo formando pelas 20 maiores economias do mundo.

- O G-8 morreu. Não representa mais nada. Não sei como vai ser o enterro, às vezes o enterro ocorre lentamente - disse Amorim, após evento no Instituto de Estudos Políticos de Paris, à BBCBrasil. - Hoje, por qualquer critério, economias como China, Brasil e Índia são economias importantes, que têm um efeito na economia mundial maior do que muitos outros que estão no G-8. O grupo não pode prescindir da presença de países como China, Brasil e Índia.

EUA e UE têm estratégias distintas contra a crise

Na próxima semana, Amorim participará da primeira reunião de cúpula dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China), na cidade russa de Ekaterinburgo. Segundo o chanceler, nessa reunião, os países vão tentar criar uma coordenação para lidar com a crise econômica. Ele acrescentou que o mundo está "entrando em um período de governança variável", no qual países emergentes têm seu papel.

Um dos temas principais da reunião do G-8 será o grau de atuação dos governos para conter os efeitos da crise. Nesse debate, as abordagens de EUA e União Europeia (UE) têm apresentado padrões distintos. Washington defende uma intervenção maior do Estado na economia, embora temporária. Isso se traduziu não só em pacotes de estímulos generosos, mas também na ajuda pontual a certos setores, com o de bancos e de montadoras, para tentar fazer o sistema financeiro voltar à normalidade e resguardar segmentos intensos em mão de obra. Já a UE, liderada por Alemanha, é contra estímulos fiscais agressivos, preferindo deixar que o mercado vá, aos poucos, regenerando a economia.

Segundo os últimos dados macroeconômicos, a aposta americana parece estar fazendo mais sentido, pelo menos por enquanto, à medida que crescem os sinais - os mais recentes mostraram um leve crescimento nas vendas no varejo e queda nos pedidos iniciais de seguro-desemprego - de que a economia está se estabilizando e mesmo se recuperando, segundo alguns analistas. Ao passo que a Europa continua mergulhada num panorama sombrio. Economistas independentes preveem que a economia americana retomará o crescimento no quarto trimestre, e a Europa continuará em recessão em boa parte de 2010.

Segundo uma fonte, os participantes da reunião do G-8 vão pedir ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que desenvolva um estudo sobre formas de desfazer as drásticas medidas no campo fiscal adotadas pelos governos para lidar com a crise. Tal iniciativa sinaliza que há uma sensação de que a recuperação da economia já está à vista. Ontem, o ministro das Finanças do Canadá, Jim Flaherty, defendeu, ao chegar à Itália para a cúpula do G-8, o fim do estímulo fiscal. Já o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, disse que ainda não acabou o momento de estimular a economia.