Título: Laboratório anuncia vacina contra gripe suína
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 13/06/2009, O Mundo, p. 25

Imunizante ainda não foi testado. Primeira vítima brasileira estava grávida e morava nos EUA desde bebê

NOVA YORK e ZURIQUE. Um dia após a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar que a disseminação da gripe suína virou uma pandemia, a empresa farmacêutica suíça Novartis anunciou que produziu o primeiro lote de uma vacina contra a doença. O imunizante, no entanto, ainda não passou por testes clínicos e só deve estar liberado para uso humano em setembro. Ontem, também foi anunciado que o vírus H1N1 fez a primeira vítima fatal brasileira. A cearense Caitlin Anne Treat Huber, que nasceu em Fortaleza mas foi adotada aos 3 meses de idade por um casal americano, morreu no dia 30 de maio em Chicago por complicações da doença.

O anúncio da nova vacina surpreendeu positivamente os especialistas, que não esperavam a conclusão de um imunizante contra o H1N1 pelo menos até julho. Segundo o laboratório, a conclusão do primeiro lote, feito na filial da Alemanha, foi possível graças à utilização de uma tecnologia baseada em células que permite sua produção sem a necessidade de cultivar a linhagem do vírus em ovos.

De acordo com a Novartis, as instalações da empresa têm potencial para produzir milhões de doses da vacina por semana. Mesmo sem a realização de testes e a aprovação pelas autoridades, mais de 30 governos já fizeram encomendas antecipadas, segundo o laboratório, entre eles os Estados Unidos, que teriam encomendado US$289 milhões em vacinas.

O anúncio da Novartis acirrou a disputa entre os grandes laboratórios pela produção da vacina contra a gripe suína. O laboratório Baxter, concorrente da Novartis, correu ontem para anunciar que até o próximo mês também terá um imunizante pronto. A pressa em se anunciar vacinas, mesmo sem testes em humanos, segundo especialistas, tem como motivo a corrida por contratos com governos para garantir as vendas quando o produto for aprovado. Os laboratórios Sanofi-Aventis, GlaxoSmithKline e Solvay também correm contra o tempo para anunciar novos imunizantes.

Brasileira deu à luz e bebê está em coma

A primeira vítima fatal brasileira da gripe suína morreu no Illinois Medical Center, em Chicago, após ficar internada uma semana. Caitlin Anne Treat Huber, de 20 anos, estava grávida de seis meses e deu à luz por cesariana, em estado de coma, no dia 29, numa tentativa dos médicos de salvar mãe e bebê. O vírus H1N1 torna-se mais letal quando infecta mulheres grávidas e pessoas com doenças crônicas.

- Ela era forte. Ninguém imaginava que esta gripe pudesse ser fatal. Foi uma tragédia - disse Chas Huber, irmão de Caitlin e também brasileiro.

Caitlin vivia nos EUA desde os três meses de idade, quando foi adotada pelo casal Vicki Treat e Charles Huber, da cidade de Lincoln, em Nebraska. Caitlin havia se mudado para Chicago há pouco mais de dois anos. Segundo a pediatra cearense Solange Uchoa de Oliveira, que acompanhou o processo de adoção e mantinha contato frequente com a jovem, Caitlin visitou o Brasil apenas uma vez, em 2003, acompanhada de seus pais.

O bebê, uma menina, permanece internada na UTI neonatal, recebendo a visita do pai, Antonio Palafox. Caitlin tinha outra filha, Annalycia, de 1 ano, fruto de um relacionamento anterior. O estado de Illinois, cuja maior cidade é Chicago, já teve quatro casos fatais e é o segundo em número de mortes pela doença nos EUA, perdendo apenas para Nova York. Até ontem, 13.217 casos foram confirmados nos EUA. A OMS registrou em todo o mundo até ontem 29.669 casos em 74 países, com pelo menos 145 mortes.

Ontem, o Ministério da Saúde do Brasil confirmou mais dois novos casos da doença, um na Bahia e outro em Minas Gerais, elevando para 54 casos confirmados em todo o país.