Título: Cúpula inédita vai traçar plano contra crise
Autor: Novo, Aguinaldo; Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 15/06/2009, Economia, p. 15

Brasil, Rússia, Índia e China vão elaborar proposta para unificar discurso dos Brics.

BRASÍLIA. As atenções dos principais atores internacionais estarão voltadas, amanhã, a Ekaterinburgo, na Rússia, onde, pela primeira vez, será realizada uma reunião de cúpula de chefes de Estado dos Brics - acrônimo criado em 2001 pelo economista Jim O"Neill, do grupo Goldman Sachs, para designar os quatro principais países emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia e China.

Com grandes reservas internacionais em dólar, esses países questionam, por exemplo, o papel da moeda americana e seu derretimento desde o agravamento da crise. Este tema, porém, tem sido tratado com cautela. Em primeiro lugar, porque desagradaria aos Estados Unidos. Em segundo, porque semear desconfiança a respeito do dólar num momento em que as economias tentam se desvencilhar da crise é desaconselhável.

Responsáveis por 40% da população e do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos) mundial e ocupantes de nada menos do que um quarto do planeta, os Brics têm ganhado cada vez mais projeção. Tornaram-se a válvula de escape da crise, por seu mercado e seu potencial de fazer a roda da economia andar, e partem fortalecidos para os debates que acontecerão em setembro, no encontro dos países do G-20 financeiro. Não se descarta até mesmo a institucionalização dos Brics, segundo o embaixador Gilberto Moura, chefe do Departamento de Mecanismos Regionais do Itamaraty.

- A cúpula vai ajudar na formatação do mecanismo, em sua institucionalização - explicou Moura.

O ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira Unger, que participou de reunião preparatória para a cúpula há cerca de 15 dias, na Rússia, acredita que os quatro países começam a construir um discurso comum:

- A ação comum dos Brics poderia exercer uma imensa influência.

Segundo ele, um dos pontos que precisam ser analisados com mais atenção é o iminente fracasso da Rodada de Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC). O que se vê, afirmou, é o acirramento do uso de medidas protecionistas.

Espera-se que os líderes dos Brics aprovem uma declaração conjunta sobre a crise financeira e o desenvolvimento mundial. Essa fórmula será levada às nações desenvolvidas e largamente propagada aos demais grandes países emergentes, como México, Argentina, Chile e África do Sul.