Título: Lula apela a Sarney sobre CPI
Autor: Gois, Chico de; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 09/06/2009, O País, p. 3

UM POÇO DE POLÊMICAS

Governo não abre mão de controle da comissão, e instalação pode ser adiada de novo

Chico de Gois, Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva se convenceu de que terá que atuar pessoalmente, mais uma vez, para tentar um acordo no Senado que garanta a aliados fiéis o efetivo controle da CPI da Petrobras, prevista para ser instalada amanhã. Lula vai apelar à influência que o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), tem sobre o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), que dificulta um acordo na base ao vetar o líder do governo, Romero Jucá (RR), para a relatoria da CPI. Renan quer um nome de sua confiança na função. Lula quer Jucá.

Para o Planalto, se o impasse continuar, a maioria governista deve adiar novamente o início dos trabalhos. O calendário legislativo, com feriadão, festas juninas e recesso de julho, é favorável à estratégia do governo.

Enquanto a base não se entende, a oposição tenta se organizar. Busca apoio de governistas como Fernando Collor (PTB-AL) e Jefferson Praia (PDT-AM), para assegurar, amanhã, a instalação da CPI da Petrobras. E convocou para hoje reunião da CPI das ONGs, na qual o novo relator, Arthur Virgílio (PSDB-AM), promete apresentar um plano de trabalho com foco nos convênios do governo com entidades ligadas ao PT e ao MST.

Lula, que conversou com Renan há cerca de dez dias - quando aceitou o pedido do líder para que o petista Aloizio Mercadante (SP) ficasse fora da CPI -, deve procurá-lo de novo, mas antes tentará a ajuda de Sarney como intermediário.

- O presidente disse que vai tomar a iniciativa de conversar com ele (Sarney), com o líder do PMDB e com o líder do PT (Aloizio Mercadante) para, vamos dizer assim, assuntar sobre a montagem da relatoria e da presidência - disse o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, ao fim da reunião de coordenação do governo, salientando que essa atuação de Lula é normal. - Tudo é ele. Na verdade, ele é quem faz a coordenação do governo dele. Eu apenas dou os recados e trago as preocupações.

Feriado e São João favorecem governo

Para a sessão da CPI da Petrobras de amanhã, PSDB e DEM tentam garantir a presença de seis dos 11 integrantes. A oposição tem três titulares, mas conta com o apoio de Collor e Jefferson Praia, além de Paulo Duque (PMDB-RJ), que, como parlamentar mais velho, convocou a sessão.

- Nossa expectativa é instalar a CPI esta semana, mesmo sendo véspera do feriado. Collor e Jefferson Praia se comprometeram a comparecer. O governo se comprometeu a dar quórum quando propôs o adiamento. Acredito que não são moleques e não vão tratar a oposição com desdém - disse Álvaro Dias (PSDB-PR).

Mesmo que a oposição instale a CPI, o governo usará sua maioria e o calendário para adiar ao máximo as investigações. Além do feriadão, os governistas contam com os festejos de São João e o consequente esvaziamento do Legislativo. Entrando julho, o Congresso tem apenas mais duas semanas de trabalho antes do recesso de cerca de 20 dias.

- Como a maioria é do governo, é possível, sim, que ele use o calendário para esvaziar a CPI - admite o líder do PDT, Osmar Dias (PR).

Lula vai tentar usar Sarney como fiador das negociações, mas no PMDB o consenso é que Renan só voltará atrás no veto a Jucá com um apelo do presidente. Múcio negou que a atuação de Lula signifique pôr panos quentes na disputa entre PT e PMDB, e reconheceu que não tem como evitar a politização da CPI:

- É uma CPI importantíssima. A um ano das próximas eleições, não vamos conseguir fugir de ter um tom político. É do próprio sentimento da Casa.