Título: Forma de inibir o trabalho da mídia
Autor:
Fonte: O Globo, 09/06/2009, O País, p. 5

Especialistas não acreditam que transparência é que tenha motivado estatal

Tatiana Farah

SÃO PAULO. Especialistas ouvidos pelo GLOBO criticaram ontem o vazamento das perguntas e respostas trocadas pela Petrobras com os jornalistas, antes da publicação das reportagens. Carlos Alberto di Franco, diretor do Instituto Internacional de Ciências Sociais, ligado à Universidad de Navarra, na Espanha, afirmou que os jornais devem publicar as reportagens sem se deixar conduzir pela estatal, que estaria inibindo o trabalho da imprensa. Para ele, é preciso deixar claro aos leitores que a situação é uma anomalia.

- Do ponto de vista legal, eles podem fazer isso, mas do ponto de vista ético e de relacionamento com a mídia, esse não é o caminho. Estão atropelando esse processo de uma maneira inédita. Não me lembro de um relacionamento com instituição pública que tenha terminado dessa maneira. Não é bom para a instituição, nem para a mídia, nem para os leitores, que deveriam ter a informação editada pela imprensa com independência e liberdade - disse Di Franco: - É uma forma de atropelar o trabalho da mídia. Quando digo atropelar, digo inibir.

Para o diretor executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, a afirmação da estatal, de que a divulgação prévia das informações é uma atitude de transparência, é "conversinha".

- O motivo de publicar essas informações antes das reportagens é um pouco nebuloso. Mas publicar as perguntas e respostas trocadas pelos jornais com a empresa, depois de as reportagens serem publicadas, não me pareceu ruim - disse Abramo.

O jornalista Alberto Dines, que comanda o Observatório da Imprensa, tem outra visão. Para ele, a discussão sobre o blog da Petrobras é boa, mas o problema é menor. Em sua opinião, uma suposta distribuição política de verbas publicitárias da estatal é um ponto que deveria chamar mais a atenção.