Título: Gushiken mantém poder nos fundos de pensão
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 14/06/2009, O País, p. 5

Conselheiros da Petros acusam ex-ministro de influenciar decisões e querem derrubar diretoria ligada a ele

SÃO PAULO. Afastado do governo desde 2006, depois de ser acusado de envolvimento no escândalo do mensalão, o ex-ministro da Comunicação Institucional Luiz Gushiken continua na ativa, exercendo sua influência em fundos de pensão que valem R$160 bilhões. Recém-eleitos, os novos conselheiros do fundo Petros, da Petrobras - que fazem oposição à CUT e ao PT -, coletam assinaturas para tentar derrubar a diretoria ligada a Gushiken. Eles alegam que o ex-ministro manobra a Petros de acordo com interesses do PT e do governo, e que isso prejudica beneficiários do fundo.

- A direção é competente, sabe o que faz. O problema é que recebe influência do Gushiken, e por isso o fundo fica sujeito aos interesses políticos do PT e do governo - disse o conselheiro Paulo Brandão.

Sindicatos e entidades ligados ao fundo coletam assinaturas para tentar restaurar o antigo estatuto da Petros, que obriga dirigentes a ter pelo menos dez anos de contribuição.

O presidente da Petros, Wagner Pinheiro, não é petroleiro. Egresso do Sindicato dos Bancários de São Paulo, assim como Gushiken, não tem dez anos de contribuição ao fundo. A oposição quer a saída dele. Outra mudança seria em relação ao conselho fiscal. Atualmente, o conselho tem função indicativa. Antes, tinha poder de aprovar ou reprovar contas da diretoria.

- Nos últimos seis anos, o conselho fiscal reprova contas, e o conselho deliberativo aprova, graças ao voto de minerva do presidente, Wilson Santarosa (também gerente executivo de Comunicação Institucional da Petrobras), ligado ao Gushiken - disse o conselheiro Ronaldo Tedesco.

O motivo da reprovação é o mesmo: a reitoria da Petros se recusa a cobrar judicialmente dívida da Petrobras definida por peritos judiciais em mais de R$9 bilhões. Ano passado a dívida foi renegociada e ficou em R$5,7 bilhões. Segundo os novos conselheiros, a negociação beneficiou a Petrobras, que não teria desembolsado dinheiro.

Além disso, os conselheiros apontam o dedo de Gushiken e do PT na mudança nos planos da Petros. Sob o comando de Wagner Pinheiro, o plano Petros BD (benefício definido) foi repactuado.

- O objetivo disso é adequar a Petrobras a entrar na bolsa de Nova York. Com o fim do benefício definido, a Petrobras controla este passivo. Tudo isso foi manobrado pelo governo - disse Tedesco.

Em maio, as chapas ligadas à CUT sofreram uma derrota na eleição para os conselhos fiscal e deliberativo.

- Isso mostra uma insatisfação com o direcionamento político - disse Brandão.