Título: Maior controle sobre os voos
Autor: Vasconcellos, Fábio; Brandão, Tulio
Fonte: O Globo, 14/06/2009, Rio, p. 15

Brasil começa a usar em agosto novo sistema de monitoramento de aviões por satélite.

Os controladores do espaço aéreo brasileiro começam a utilizar, em agosto, um novo tipo de monitoramento de aeronaves. O Automatic Dependent Surveillance-Broadcast (ADS-B) permite saber, via satélite, a posição exata dos aviões, mesmo em áreas onde não há radares terrestres, como parte da rota Rio-Paris, sobre o Oceano Atlântico, onde caiu o A330 da Air France. A tecnologia funciona desde que o avião e os centros de controle estejam equipados. O Airbus que fazia o voo 447 tinha o ADS, o que poderia ter facilitado a sua localização, caso o sistema brasileiro já estivesse em operação.

Estima-se que aproximadamente 70% do espaço aéreo mundial não sejam cobertos pelos radares terrestres, que ajudam no monitoramento dos aviões. O novo sistema ADS, que passa a funcionar inicialmente na rota América do Sul-Europa, é parte de uma série de mudanças que estão sendo feitas pelo Brasil para aderir ao modelo mundial de controle aéreo CNS/ATM (sigla em inglês que significa Comunicação, Navegação, Vigilância/Gerenciamento de Tráfego Aéreo).

- O avião caiu longe dos radares. Se o Airbus da Air France tivesse caído numa zona monitorada por satélites, a sua posição teria sido perfeitamente determinada - diz o comandante e especialista em segurança Carlos Ari Germano, elogiando a nova tecnologia.

O CNS é considerado o que há de mais moderno em controle de voo. Permite que o globo terrestre seja totalmente mapeado por uma constelação de satélites americanos e europeus. Com isso, as aeronaves serão não apenas monitoradas online, como também haverá troca de dados constante entre o avião e os controladores. Pelo cronograma, o CNS deverá ser implantado totalmente na Europa e nos Estados Unidos até 2023 e, no Brasil, até 2024. Outra mudança prevista para agosto na rota América do Sul-Europa, em aeronaves com a tecnologia disponível, será a troca de informações, que deixará de ser apenas por voz e passará a ser por dados.

- O Brasil segue uma série de cronogramas para se adaptar ao CNS. Em agosto, iniciamos a operação do ADS. A previsão é que até 2013 todas as aeronaves estejam adaptadas ao ADS - explica o tenente-brigadeiro do ar Ramon Borges Cardoso, diretor-geral do Departamento de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro.

De acordo com ele, os Estados Unidos estão mais adiantados na implantação do ADS. O governo americano já instalou a tecnologia no Alasca e iniciou o processo no Atlântico Norte. Em testes realizados ano passado com a nova tecnologia, aviões americanos mudaram com facilidade de altitude enquanto se cruzavam no ar.

Ainda que dê mais segurança e flexibilidade às rotas transatlânticas, o sistema mundial CNS, quando definitivamente implantado, auxiliará mais controladores de regiões com maior tráfego aéreo, como as proximidades de aeroportos.

- Esse novo sistema melhora a segurança dos voos. O tráfego aéreo está intenso e, com o CNS, será possível ampliar o controle e a precisão das informações - diz o consultor de segurança de voo do Sindicato Nacional de Empresas Aéreas, comandante Ronaldo Jenkins.

Sistema vai fazer correções

Para atender ao crescente tráfego aéreo, o Brasil vai implantar uma tecnologia - que faz parte do CNS - para tornar pousos e decolagens mais precisos. O sistema, chamado de Ground-Based Augmentation System (GBAS), prevê a existência de um conjunto de estações de GPS (localizador por satélite) e um centro processador para corrigir a posição das aeronaves durante os procedimentos de pouso. Luiz Carlos Teixeira, presidente da ACIT Soluções Tecnológicas, empresa que está desenvolvendo a tecnologia para o governo, explica que a atual, via rádio, não será desativada:

- O sistema antigo continuará existindo, por redundância. A ideia é que o erro de posição da aeronave seja calculado com a ajuda dos centros de GPS em solo e retransmitido ao avião, que faz as correções necessárias na operação.