Título: No Ceará, vocação e liderança
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 14/06/2009, Economia, p. 26

Estado assumirá 1º lugar com 35% da geração eólica do país.

FORTALEZA. Com uma área de aproximadamente 570 quilômetros de litoral, conhecida como terra do sol e também dos ventos fortes, a natureza presenteou o Ceará com a matéria-prima para a produção de um tipo de energia renovável que mais vem crescendo no mundo, a eólica. Com ventos abundantes que atingem velocidade de 30km/h, é o estado brasileiro com maior vocação para esse tipo de energia. Acompanhado à distância por Rio Grande do Norte, Bahia e Rio Grande do Sul.

Contemplado pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) com 14 parques eólicos espalhados ao longo da costa, o estado chegará ao fim deste ano como líder nacional em geração desse tipo de energia, posição hoje ocupada pelo Rio Grande do Sul. Juntos, os parques vão produzir 500,53 MW de potência, mais do que dobro do estado gaúcho, quando este também concluir a instalação de seus projetos do Proinfa.

Os novos parques no Ceará vão se somar a três usinas hoje existentes no estado, elevando a capacidade de geração eólica a 517,93 MW ou 35,2% do total do país. Das usinas que já estão funcionando, as de maior potência pertencem à SIIF Énergies do Brasil, do grupo Citicorp. As outras são de multinacionais, como a Tractebel, do grupo GDF Suez, e Rosa dos Ventos, de investidores portugueses.

Investidores do mundo inteiro estão de olho no potencial eólico do Ceará, que pode chegar a 35 mil MW, 25 vezes o seu consumo atual. É essa capacidade que anima as autoridades governamentais.

- Nós, que sempre fomos importadores, temos potencial para passarmos a exportadores de energia limpa - disse o coordenador de Energia e Comunicações da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), Renato Rolim.

Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeólica) e dono da empresa Bons Ventos, Lauro Fiúza, que está investindo em quatro parques no Ceará, a garantia de compra através de leilões pode estimular novos investimentos no país:

- Esperamos que saiam novos leilões, porque parques só são construídos, se houver garantia de compra.

De acordo com o secretário-adjunto de Infraestrutura do Ceará, Otacilio Borges, é uma reivindicação dos estados nordestinos geradores de energia eólica que o governo federal realize um leilão anual, pelos próximos dez anos, com a garantia de compra de pelo menos mil MW.

O primeiro leilão exclusivo para eólica acontecerá em 29 de novembro deste ano. A iniciativa foi comemorada. Mas um item do regulamento - que trata do índice de nacionalização - é duramente criticado pelo presidente da Abeólica. Pela regra, os equipamentos de até 2 MW têm que ser nacionais. Acima dessa potência, podem ser importados. Segundo Fiúza, a exigência cria uma reserva de mercado que irá contemplar duas empresas - a argentina Impsa e a alemã Wobben Windpower -, excluindo mais de uma dezena de fornecedores no mundo inteiro.

Os empresários estão se mobilizando para derrubar a regra, com o argumento da isonomia. O receio é que o custo final da energia eólica, que já é superior ao de outras fontes, seja considerado muito caro.