Título: Gigante de energia diz que Brasil deve ampliar a geração a partir dos ventos
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 14/06/2009, Economia, p. 26

Alstom vai investir em usinas eólicas. Governo fará 1º leilão em novembro.

No momento em que o Brasil enfrenta entraves para a construção de novas usinas hidrelétricas, a energia eólica - gerada pelos ventos - surge como uma importante opção complementar. Se num primeiro momento pode parecer mais cara, no longo prazo, ela tende a ser mais competitiva do que a usina térmica a óleo, que tem custo elevado e é altamente poluente. Esta é a opinião do presidente mundial da Alstom Hydro, Philippe Cochet, que falou com exclusividade ao GLOBO durante visita recente ao país.

Com projetos em carteira que somam 45 bilhões, a Alstom é uma das maiores fabricantes do mundo de materiais e equipamentos para geração de energia. No Brasil, cerca de 50% de toda geração de energia têm equipamentos fabricados pela Alstom. Para Philippe Cochet, o Brasil precisa desenvolver o grande potencial eólico que possui, principalmente no Nordeste. A energia dos ventos atrairá investimentos desde que tenha uma regulamentação clara e tarifas.

- É importante o país ter uma matriz energética diversificada, com fontes complementares à hídrica. E a melhor energia complementar é a eólica, mais limpa e no longo prazo tende a ficar cada vez mais mais barata - destacou Cochet.

No início, custo da geração de energia eólica é maior

A Alstom - que fabrica equipamentos para todos os tipos de geração elétrica, com exceção de térmicas a óleo - está disposta a investir pesado na energia eólica no Brasil. A companhia já montou um departamento que vai desenvolver projetos eólicos e oferecer pacotes prontos para os investidores. Em troca, a empresa fornecerá equipamentos.

- A Alstom atua como desenvolvimentista. A companhia tem um departamento especial para identificar o potencial adequado para gerar energia eólica, preparar o projeto e depois encontrar uma empresa interessada - afirmou Cochet.

O executivo explicou que atualmente o custo da tarifa de uma eólica ainda é um pouco elevado, cerca de R$200 o megawatt (MW), contra cerca de R$140 o MW de uma térmica a óleo. No entanto, segundo Cochet, a tecnologia está avançando rápido e reduzindo custos dos equipamentos. A Alstom está investindo pesado em desenvolvimento tecnológico. Além disso, segundo o executivo, as térmicas a óleo tendem a ter custo mais elevado durante o seu funcionamento porque usam combustíveis derivados do petróleo. Em alguns casos, o custo de operação de uma usina a óleo chega a R$400 o MW.

- Ou seja, a energia eólica é uma fonte complementar à hidrelétrica melhor do que a energia de térmicas a óleo - disse.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, anunciou por sua vez que o governo federal vai realizar em novembro o primeiro leilão de energia eólica do país. Tolmasquim disse que ainda está sendo preparado o edital do leilão que fixará regras, tarifas e volumes de energia.

Tolmasquim destacou que o objetivo principal desse primeiro leilão é justamente conhecer melhor o mercado potencial brasileiro e dar início a diversos projetos. O potencial gerado com energia eólica no Brasil deve ser bem maior do que os 143 mil MW estimados atualmente, disse.

- Minha expectativa é que teremos muitas empresas inscritas para o leilão, e que a oferta de energia será grande. O leilão terá a vantagem de revelar o verdadeiro preço da eólica no Brasil - disse.

Governo diz que tendência é o custo cair no país

Para o presidente da EPE, apesar de, num primeiro momento, o preço da energia eólica ainda ser um pouco superior ao de outras energias, como de gás natural ou mesmo a óleo, a tendência é seu custo cair gradativamente. Já no leilão, Tolmasquim espera preços mais competitivos.

- Vamos desenvolver o potencial no Brasil, numa proporção que permita criarmos uma pequena indústria no país, acompanhar o estado da arte tecnológico sem onerar o consumidor - destacou o presidente da EPE.