Título: Diretor-geral do Senado pode cair
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 16/06/2009, O País, p. 3

Após revelação dos atos secretos, Sarney e Renan articulam reação e podem tirar assessor

Acuado com a onda de denúncias que atinge o Senado desde que foi eleito presidente da Casa pela terceira vez, o senador José Sarney (PMDB-AP) foi aconselhado ontem por aliados a sair da defensiva para tentar assumir o controle da crise, sob pena de perder as condições de continuar no cargo. A expectativa ontem era que Sarney usará hoje a tribuna para anunciar medidas de impacto, que podem incluir o afastamento de Alexandre Gazineo da Diretoria Geral da Casa, antecipando-se a possíveis cobranças em plenário.

Gazineo foi chamado ontem pelo menos duas vezes ao gabinete de Sarney e não disfarçava a apreensão, tendo em vista que a maior parte dos atos secretos que deixaram de ser publicados ao longo dos últimos dez anos foram assinados por ele, como diretor-adjunto, e não pelo seu antecessor no cargo, Agaciel Maia.

Sarney passou ontem o dia em reuniões com aliados e assessores.

Conversou longamente com o líder do PMDB e um dos principais fiadores de sua candidatura a presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Chegaram à conclusão de que precisavam reagir e rápido, pois ambos teriam virado os alvos principais de uma guerra política para enfraquecê-los no comando do Senado.

Quem conversou ontem com Sarney ¿ que evitou entrevistas coletivas ¿ saiu convencido de que sua disposição era de partir para o enfrentamento.

Nem de longe parecia o homem angustiado de alguns dias atrás, que se lamentava de ter entrado na disputa pela presidência do Senado, o que estimulou, na ocasião, uma série de boatos de que ele poderia renunciar ao cargo.

Grupo quer PF nas investigações

O clima no Senado é de desconforto.

Um grupo suprapartidário de senadores está articulando uma reunião esta semana e deverá propor, entre outras coisas, que a Polícia Federal assuma o comando das investigações sobre mais de 500 atos administrativos secretos, que só passaram a ser publicados no Boletim Administrativo da Casa após o início de uma investigação iniciada há 50 dias por uma comissão técnica designada pelo 1 osecretário, Heráclito Fortes (DEM-PI).

¿ Hoje qualquer relatório assinado por nós não terá respaldo da opinião pública ¿ diz o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

¿ Não adianta criar mais uma comissão.

Há anos vai se criando comissão interna e nada é resolvido ¿ completou Pedro Simon (PMDB-RS).

Internado em São Paulo por causa de uma cirurgia para redução de estômago, o 1 osecretário do Senado estudava a possibilidade de receber lá mesmo o relatório final da comissão técnica, concluído na última sexta-feira, que identifica todos os atos administrativos que não foram publicados ao longo dos últimos dez anos.

A decisão do Senado de tentar na Justiça a quebra do sigilo telefônico, fiscal e financeiro do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi, que responde a processo policial por supostamente ter recebido propina de bancos conveniados com o Senado, teria sido o primeiro sinal emitido por Sarney no sentido de dar uma satisfação sobre os escândalos que assolam a instituição.

No PMDB, a eleição de Sarney para a presidência do Senado foi decisiva para que ele e seu grupo político, no qual se inclui Renan, voltassem a dar as cartas dentro da Casa e abriu espaço para que ambos possam ter influência na decisão do partido nas eleições de 2010. Por isso mesmo, Renan deverá se manter firme na defesa de Sarney.