Título: Faltam geladeiras e lavadoras
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 16/06/2009, Economia, p. 19

Vendas crescem até 50% com IPI menor e varejo tem dificuldade para repor estoques

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os eletrodomésticos da linha branca empurrou fortemente as vendas do setor ¿ geladeiras e lavadoras de roupas, principalmente ¿ e as redes de varejo já encontram dificuldades para repor seus estoques. De acordo com a Eletros, associação que reúne os fabricantes do setor, as vendas em maio superaram em 20% as do mesmo mês de 2008. Em redes especializadas, o aumento nas vendas chegaram a crescer 50%.

No Magazine Luiza, que tem uma rede de 450 lojas, as vendas cresceram 25% e há dificuldade para recompor os estoques: ¿ Hoje não tenho uma máquina de lavar para entregar. E a Brastemp (Whirpool) também não tem ¿ diz a presidente do Magazine Luiza, Luiza Trajano.

¿ O item mais difícil são as lavadoras ¿ endossa José Domingos Alves, superintendente de vendas das Lojas Cem, que tem 176 lojas.

As vendas de geladeiras das Lojas Colombo (rede que conta com 365 filiais) cresceram 52% no mês passado, as de lavadoras de roupa, 18%, e as de fogão, 28%. E Gladimir Somacal, diretor de compras da Colombo, diz que esse ritmo se mantém este mês. O plano de elevar de 35 dias para 50 dias seus níveis de estoque, para aproveitar o último mês de vigência do IPI menor (que começou em 18 de abril e vale por 90 dias), porém, esbarra na indústria.

¿ Alguns fabricantes não conseguem entregar produtos na proporção que gostaríamos. Há modelos de lavadoras e geladeiras já faltando ¿ conta o executivo da Colombo.

Governo estuda prorrogação

De olho numa máquina de lavar de 10kg, a bancária Virgínia Belchior foi pesquisar preços na loja da Tele-Rio na Rua da Uruguaiana, no Centro do Rio, ontem.

¿ O preço está excelente. A redução do IPI foi muito benéfica.

Grandes fabricantes reconhecem que alguns varejistas podem ter problemas para receber prontamente as encomendas, mas alegam que isso é pontual. Armando do Valle Júnior, diretor de Relações Institucionais da Whirlpool, dona de Brastemp e Consul, diz que a empresa contratou 400 temporários para ajudar na retomada de vendas. Mas segundo ele, apesar de bom, junho não deve repetir maio.

¿ Não falta produto e estamos absolutamente em dia com a programação de entrega. Pode haver falta pontual por alguns dias ¿ diz.

Patricio Mendizabal, presidente no Mercosul da Mabe (fabricante das marcas GE e Dako), diz que suas linhas de geladeiras e lavadoras de roupa operam plenamente, em níveis ¿melhores que antes da crise¿. Segundo ele, se há espera, isso é fruto do planejamento de estoques do varejo.

¿ Estamos operando na máxima capacidade e tem cliente na fila pedindo produto com urgência. Não esperávamos que o mercado fosse ter uma procura tão forte.

O governo começa a avaliar esta semana se vale ou não a pena prorrogar a redução do IPI sobre automóveis, linha branca e materiais de construção. Uma das propostas em estudo seria, especialmente no caso de automóveis, fazer um teste por um curto período de tempo, de um ou dois meses. Ou seja: manteria-se o benefício por um prazo inferior aos três meses de praxe para verificar ¿ como na primeira prorrogação para montadoras ¿ se o incentivo realmente ainda se justifica.

Se dependesse do Ministério da Fazenda, o benefício não seria prorrogado.

O argumento é de que as vendas já tiveram uma forte recuperação.

A Fazenda vinha preparando uma saída alternativa: a partir de julho, o IPI do setor automotivo voltaria a subir, mas de forma gradativa.

Isso seria uma forma de recuperar um pouco as receitas tributárias sem afetar as vendas do setor. A redução do IPI para veículos tem um impacto mensal de R$ 365 milhões para os cofres públicos.

O problema é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse publicamente, na semana passada, que é favorável à manutenção do benefício para as montadoras.

Para materiais da construção civil, a tendência é que haja uma prorrogação do IPI reduzido. Na avaliação dos técnicos, esse tipo de medida ¿ adotada em abril e que acaba em julho ¿ é importante para estimular investimentos.

Neste caso, a renúncia relativa aos 24 produtos que foram desonerados é de R$ 540 milhões no trimestre. Sobre linha branca, a avaliação é que não seria preciso prorrogar a redução do IPI (feita por três meses em abril), pois as vendas já subiram. Mas há uma pressão das empresas para que o benefício, que significou renúncia fiscal de R$ 174 milhões, seja mantido.

COLABOROU Anna Luiza Santiago