Título: Lula: respeito integral aos direitos humanos depende de igualdade social
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 16/06/2009, Economia, p. 23

Presidente diz que países ricos estão usando imigrantes como bodes expiatórios

GENEBRA. No lugar de críticas de ativistas de direitos humanos, que distribuíram panfletos, foi sob um estrondoso aplauso de pé ¿ dos governos ¿ que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou ontem o seu discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Na véspera da chegada de Lula, algumas organizações não-governamentais (ONGs), como a Anistia Internacional, cobraram uma ¿postura de princípios¿ do Brasil, queixando-se que o país evitou, em votações na ONU, criticar ou bater de frente com violadores sistemáticos de direitos humanos, como a Coreia do Norte. Em discurso, Lula, sem mencionar as ONGs, defendeu o vínculo de direitos humanos com direitos econômicos e sociais: para o governo, difícil garantir um sem o outro: ¿ Não pode haver respeito integral aos direitos humanos em um mundo onde é crescente a desigualdade entre pessoas e entre nações.

E acrescentou: ¿ Governos acuados tendem ao isolamento e ao radicalismo.

Não interessa a ninguém um ambiente que incentiva o rancor e alimenta a intransigência. Este conselho deve buscar no diálogo, e não na imposição, o caminho para fazer avançar a causa dos direitos humanos.

O presidente defendeu a necessidade de os países ¿unirem esforços¿ para enfrentar a crise econômica mundial, que, afirmou, não pode ser pretexto para as nações descumprirem suas obrigações com promoção e proteção dos direitos humanos. E partiu para a defesa dos imigrantes, que, segundo ele, estão sendo responsabilizados pela crise. Lula voltou ao assunto na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, em um duro ataque à Europa e aos países ricos em geral.

¿ Alguns tentam transferir o ônus da crise para os mais fracos. É aí que aparece a face oculta e cruel da globalização.

Cresce a xenofobia e os trabalhadores imigrantes se tornam os bodes expiatórios ¿ queixou-se ele, que, ao fim, foi aplaudido de pé.

FMI, Bird e ricos não tinham resposta para a crise, diz Lula

Diante da estimativa da OIT de 50 milhões de desempregados só por conta da crise, o presidente Lula também fez um apelo aos sindicalistas, num encontro com representantes de centrais sindicais internacionais: precisam propor alternativas, cobrar mais e fazer pressão.

Lula não poupou o FMI, o Banco Mundial (Bird) e países ricos em geral, dizendo que nenhum tem resposta para a crise.

¿ Nessa crise, o FMI e o Banco Mundial não tinham resposta.

E muitos governos estão sem respostas. Estavam todos acostumados a tratar de crises em países pobres ¿ disse.

O presidente embarcou ontem para a Rússia, para a primeira reunião de cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, China e Índia), onde, segundo ele, vai debater ¿a troca de experiências¿ sobre como combater a crise.

Em visita ao Cazaquistão, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que a pior fase da crise não terminou.

¿ A postura deles (G-8, que reúne os sete países mais ricos do mundo mais a Rússia) é de que estamos começando a ver alguns sinais de recuperação, mas temos que ser cautelosos ¿ afirmou Strauss-Kahn. ¿ A maior parte do pior (da crise) ainda não ficou para trás.