Título: Sob pressão
Autor: Ilha, André
Fonte: O Globo, 22/06/2009, Opinião, p. 7

O Código Florestal Brasileiro, promulgado em 1965, resultou do trabalho de um grande número de especialistas ao longo de quase dois anos, e demonstra notável percepção da importância das florestas para a saúde humana e planetária. Ele dispõe sobre um grande número de aspectos relacionados à proteção das florestas, e seus dispositivos são essenciais para a preservação da biodiversidade, da fertilidade dos solos e da qualidade e quantidade das águas disponíveis para o consumo animal e humano.

A crescente compreensão do impacto negativo que a destruição das florestas e demais formas de vegetação nativa tem sobre o clima, a produtividade agrícola e a fauna e a flora só faz crescer a nossa admiração e gratidão pelas disposições do Código, mas, ainda assim, ele vem sendo atacado com ferocidade pela bancada ruralista do Congresso Nacional. Estes parlamentares defendem a redução do tamanho mínimo das áreas protegidas, como as chamadas áreas de preservação permanente e as reservas legais das propriedades rurais, com o argumento apocalíptico da fome e do desemprego: mantida a legislação atual, não haveria mais áreas agricultáveis para a expansão da produção de alimentos, e os pequenos agricultores, sem ter como trabalhar, teriam que se mudar para a periferia das grandes cidades, na miséria.

Nada mais falso. Áreas abandonadas abundam no interior brasileiro, e a pequena produção agrícola familiar é afetada direta e negativamente pelo desmatamento desenfreado. Se o pequeno agricultor é expulso do campo, é a concentração das terras nas mãos de poucos grandes proprietários rurais - os maiores e únicos beneficiários do enfraquecimento proposto do Código Florestal - a grande responsável.

A prova de que a convivência harmoniosa entre as áreas ambiental e agrícola é possível é dada pelo Estado do Rio de Janeiro, onde há diálogo permanente, com boa vontade recíproca na superação de eventuais diferenças.

ANDRÉ ILHA é diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro.