Título: Associação de jornais elogia e Fenaj critica decisão do STF
Autor:
Fonte: O Globo, 18/06/2009, O País, p. 9

IMPRENSA: Jornalista critica comparação com cozinheiro

Para donos de jornais, mercado não terá mudanças

BRASÍLIA. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) agradou à Associação Nacional dos Jornais (ANJ), mas foi criticada pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). Diretor do Comitê de Relações Governamentais da ANJ, Paulo Tonet Camargo disse, após a votação, acreditar que pouco vai mudar com o resultado da sessão do STF. Ele afirmou que o mercado jornalístico não sofrerá mudanças com a decisão dos ministros.

- A decisão consagra no Direito o que já acontecia na prática. O número de profissionais que atuam (sem o diploma) é pequeno. A ANJ é a favor do curso de jornalismo, mas o que se discutia aqui era o diploma como pré-requisito - afirmou.

Já a Fenaj classificou a decisão do Supremo de um "duro golpe" para os profissionais. Segundo o presidente da Fenaj, Sérgio Murilo de Andrade, a liberação dos jornalistas do diploma é um "desastre". Ele afirma que os ministros do STF votaram em consonância com os patrões das empresas jornalísticas, em detrimento do interesse dos empregados:

- Essa decisão é um desastre, é a expressão, sem reparo, da posição das empresas. Entrega aos patrões a regulação. É como dar aos lobos o cuidado do galinheiro. Agora alguém sem nenhuma qualificação poderá exercer a profissão - afirmou Andrade.

O presidente da Fenaj considerou desrespeitosa a comparação que o ministro Gilmar Mendes fez entre jornalistas e chefes de cozinha, em seu argumento de que os profissionais da imprensa não carecem de conhecimentos específicos para o bom exercício da atividade. Para a Fenaj, que anunciou que seguirá defendendo algum tipo de regulação para a prática, a qualidade da informação jornalística está ameaçada. Andrade disse acreditar que os cursos de jornalismo não deixarão de existir, mas sofrerão um baque com a decisão do Supremo.

- Vamos seguir defendendo alguma regulação que nos permita manter alguma dignidade. Deixamos de ser uma categoria e passamos a ser um amontoado de gente sem identidade. E um amontoado é muito mais fácil de explorar - disse.

Em defesa do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo, a advogada Taís Borja Gasparian apresentou os argumentos do setor antes de os ministros proferirem seus votos. Ela apontou que o decreto-lei que até então regulava a profissão era "um dispositivo do regime militar para restringir a liberdade de manifestação do pensamento". Para a advogada, a cobrança do diploma é, atualmente, "impraticável", dada à disseminação de blogs jornalísticos na internet.

Como Gilmar Mendes, que citou profissionais renomados que atuam sem diploma, Gasparian citou Cláudio Abramo, Carlos Heitor Cony, a família Frias, dona da empresa "Folha da Manhã S.A", e a família Mesquita, dona do grupo "Estado de S.Paulo", como exemplos de sucesso que não passaram pelas faculdades de jornalismo.

- Não é legítimo que diversos talentos de outras áreas de conhecimento sejam alijadas da prática jornalística - argumentou. (Catarina Alencastro)