Título: Lula quer fim da dependência do dólar
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Fonte: Correio Braziliense, 02/04/2009, Economia, p. 16

Presidente brasileiro defende que moeda americana perca status de referência nas negociações internacionais.

O Brasil não quer utilizar exclusivamente a moeda americana como referência nas negociações internacionais. O posicionamento, manifestado às véspera da Cúpula de Londres, foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um claro alinhamento à proposta apresentada pelo governo da China. ¿Me interesa que tenhamos mais de uma moeda de referência e que não continuemos dependendo apenas do dólar¿, afirmou o presidente.

Nos últimos dias o governo chinês pediu que seja adotada uma nova moeda de reserva internacional para substituir o dólar, estabilizar o clima monetário mundial e proteger suas gigantescas reservas cambiais. Em seguida, essa proposta foi criticada pelas autoridades americanas. Sem se aprofundar mais sobre o tema, Lula disse que aguardará para saber detalhes da proposta a ser feita pelo presidente chinês Hu Jintao na cúpula do G-20.

O presidente Lula também disse estar disposto a ajudar a reforçar o Fundo Monetário Internacional (FMI), desde que esse eventual reforço não comprometa as contas do país. ¿Se for necessário dar dinheiro (ao FMI) e se isso não diminuir nossas reservas, não vemos problema algum.¿ Ao repercutir o empréstimo de US$ 47 bilhões feito pelo FMI ao México, ele também disse que o Brasil não precisa de ajuda.

Às vésperas da cúpula, Lula esteve com o presidente francês Nicolas Sarkozy. Após o encontro, Sarkozy disse que a França e o Brasil compartilham de uma total identidade de opiniões sobre a necessidade de uma regulação mundial. Em entrevista conjunta, Lula explicou por que decisões da cúpula deverão ter teor político. ¿Há uma enorme expectativa sobre esta reunião. Não serão medidas fáceis se não tivermos a coragem de entender que as grandes decisões que devem ser tomadas serão decisões políticas¿, disse.

O presidente brasileiro esclareceu ainda que não serão os tecnocratas que ficarão encarregados das grandes decisões. Vamos ter que restabelecer o crédito no mundo¿, acrescentou.

Lula disse ainda que tanto ele quanto Sarkozy estão de acordo quanto ao controle dos paraísos fiscais. ¿É inadmissível que, em um planeta Terra com mais de um bilhão de pessoas vivendo abaixo do nível da pobreza, alguém se dê ao luxo de tirar dinheiro do setor produtivo para colocá-lo no setor especulativo.¿

Responsabilidade Lula também se encontrou com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Ao falar em público, Brown lembrou uma conversa privada que teve com o presidente brasileiro na semana passada no Brasil. Nessa conversa, Lula disse que quando era sindicalista ele culpava as empresas pelos problemas, posteriormente, quando se tornou oposição, passou a responsabilizar o governo e, mais à frente, quando se tornou presidente, passou a culpar os Estados Unidos e a Europa.

Ao fazer referência a esse comentário, Brown disse que, agora, na prática, o problema da crise mundial é de todos. Na foto oficial da Cúpula de Londres, quem se sentou ao lado da anfitriã do encontro, a rainha Elizabeth, foram o primeiro-ministro Gordon Brown e o presidente Lula.