Título: Lula: É impossível manipular 30% dos votos
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 18/06/2009, O Mundo, p. 27

Presidente volta a defender reeleição de Ahmadinejad, e chanceler aponta recontagem como fato positivo

ASTANA, Cazaquistão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu novamente em defesa do governo iraniano e disse não acreditar que os resultados do tumultuado processo eleitoral que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad tenham sido manipulados. Na segunda-feira, em Genebra, Lula já havia dito que não existiam provas de fraude. Mesmo assim, afirmou que vai "cautelosamente esperar baixar a poeira" porque esta não seria a primeira vez que um partido de oposição que perde sai reclamando.

- No México teve eleição. A diferença foi de 1% dos votos e a oposição foi às ruas. Os mesmos que fazem críticas ao Irã pediam para que se respeitasse o resultado das urnas mexicanas. No Irã foi uma diferença grande. Acho impossível que se consiga manipular 30% dos votos - afirmou na capital do Cazaquistão, onde esteve em visita oficial durante o dia de ontem.

Amorim defende relações com regimes contestados

O presidente destacou ainda que, nem em algumas cidades do Brasil onde, no passado, se identificaram mais votos do que eleitores, teria sido possível manipular os resultados das urnas com tamanha diferença.

- Não podemos esquecer nunca da primeira eleição de (George W.) Bush, que, apesar de dúvidas que surgiram, foi aceita.

Mais cedo, o chanceler Celso Amorim rebateu as críticas de que o governo teria sido pouco cauteloso ao fazer declarações positivas sobre o resultado das eleições. Ele disse que o anúncio da recontagem de votos é "respeitável".

- Se ele (Ahmadinejad) mandou contar os votos, é um sinal de que quer dar uma satisfação à opinião pública, o que é sempre respeitável. A sociedade iraniana tem um dinamismo que poucas sociedades na região têm.

O ministro também refutou as acusações de que o Brasil tem se aproximado, em organismos multilaterais, de governos com históricos questionáveis de direitos humanos.

- Tem gente que quer falar de direitos humanos para ficar em paz com a própria consciência, purgar pecados do colonialismo, e tem gente que vai para melhorar a situação dos países - disse.

O ministro defendeu o relacionamento com países de governos polêmicos, o que ONGs chamam muitas vezes de "conivência". Segundo Amorim, tudo é uma questão de "percepção".

- Eu fui ao Zimbábue, estive com (o presidente Robert) Mugabe e (com o líder da oposição Morgan) Tsvangirai. Muita gente pode ver isso criticamente. Mas muitas vezes o perfeito é inimigo do bom - disse.

E acrescentou:

- Nós temos que ter um processo evolutivo. O que queriam as potências europeias? Que Mugabe saísse na hora e entrasse Tsvangirai. Teria havido guerra civil, milhares de mortos, será que teria sido melhor?

Amorim também afirmou que para melhorar a situação no Sudão é preciso conversar com a União Africana, e, para que o mesmo aconteça no Sri Lanka, é necessário engajá-lo.