Título: Antes do discurso, ameaças
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 17/06/2009, O País, p. 3

BRASÍLIA. O grupo do presidente José Sarney (PMDB-AP) esteve com ele em sua residência, de manhã, e mandou recados em tom de ameaça a todos os partidos: ele não é o único responsável pelas decisões da Casa, que são colegiadas, e não aceitaria ser responsabilizado sozinho. O efeito foi imediato.

Apesar da avaliação generalizada de que Sarney frustrou expectativas ao não anunciar medidas contundentes, a reação na oposição e na base governista foi de conciliação. Uma frase do discurso de Sarney foi cuidadosamente trabalhada antes de ser dita da tribuna: "A crise não é minha, é do Senado". Outra ameaça colocada foi a de que a revelação dos atos secretos comprometeria mais da metade dos senadores. Foi uma forma de intimidar a Casa e resgatar o corporativismo para a sobrevivência coletiva, avaliou um petista, após o discurso.

De manhã, Sarney reuniu em casa os líderes Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Gim Argello (PTB-DF). Integrantes do PMDB diziam abertamente ontem que o DEM transformou a 1ª Secretaria num feudo. A mesma avaliação foi levada ao PSDB e ao PT.

À noite, o grupo de Sarney comemorou a estratégia. Acreditam que, por ora, foi abafado o movimento que era crescente para enfraquecer Sarney na presidência. Até senadores como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS) foram procurados por Renan, que usou um tom conciliador ao telefone. Para Renan, o que esfriou os ânimos foi a "verdade" mostrada por Sarney:

- Ninguém melhor do que Sarney para conduzir esse processo. Isso ficou claro hoje, quando a verdade dos fatos foi apresentada no discurso.