Título: Greve na USP divide a comunidade acadêmica
Autor:
Fonte: O Globo, 19/06/2009, O País, p. 10

Presença da PM no campus, chamada para garantir o acesso e o patrimônio, vira motivo de impasse e crise

SÃO PAULO. "Quando um professor chama a polícia para combater alunos desordeiros, abdica da tarefa de professor. Trata-os como transgressores, esquecendo que precisam ser educados. Porém, tendo os estudantes se associado a baderneiros, não cabia à reitora chamar a polícia para garantir o patrimônio público?". A frase, do professor emérito José Arthur Gianotti, da Faculdade de Filosofia da USP, resume a polêmica que envolve a greve na Universidade de São Paulo, uma das mais importantes do país e que está parcialmente paralisada desde maio. Ontem, em novo capítulo da queda de braço que envolve sindicalistas, estudantes, professores e o comando da USP, cerca de 1.200 alunos, funcionários e professores saíram em passeata pela Avenida Paulista.

Os manifestantes protestaram contra a presença da Polícia Militar na USP e reivindicaram a saída da reitora, Suely Vilela, que não tem dado entrevistas, mas já afirmou que a medida, tomada após a ocupação de prédios da universidade por grevistas, "tenta combinar direitos constituídos e rigor na aplicação das leis".

Na passeata de ontem, moradores de prédios próximos à Paulista lançaram objetos contra os manifestantes. Uma estudante foi atingida na cabeça por uma pedra de gelo. Ela sofreu um corte, foi atendida num pronto-socorro e liberada.

A crise na USP, que tem 15 mil funcionários, 80 mil alunos e 5.400 professores, foi agravada na semana passada, quando houve um confronto de grevistas com a PM, que ocupa o campus a pedido da reitora e por decisão da Justiça para garantir o patrimônio e o acesso das pessoas. A paralisação divide a comunidade, com alunos, professores e funcionários tanto radicalmente contra o movimento como a favor. Parte da produção acadêmica parou. Outras universidades estaduais aderiram.

Uma das mais importantes unidades de pesquisa da USP, a Escola Politécnica funciona normalmente, assim como a Faculdade de Economia. Até em cursos como Geografia e História, sempre à frente nas reivindicações, há pessoas que não querem aderir à greve.

O Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas e o Fórum das Seis, que reúne as entidades de professores e funcionários das três universidades estaduais, só aceitam negociar com a saída da PM.